Sem predador natural, animais já estão presentes em quase todo o continente.
Eles representam um grande prejuízo para os agricultores.
De hábito noturno, o javaporco só anda em bando e causa muito prejuízo por onde passa. Em poucos minutos tudo fica destruído no ataque a uma plantação.
Os javaporcos nasceram do cruzamento do javali com o porco doméstico. Eles foram trazidos da Europa para a América do Sul, principalmente a Argentina e o Uruguai, e chegaram ao Brasil pelo Rio Grande do Sul.
Para conter o crescimento populacional, o Ibama autorizou o abate do animal em todo o território nacional, mas os produtores rurais devem obedecer algumas normas antes da caça.
A única espécie animal cuja caça é permitida por lei hoje no Brasil é a do javali. Ainda assim, sob a premissa de controle populacional. Com exceção de caça de subsistência e científica, demais modalidades de caça estão suspensas ou proibidas no país. Aquele que for pego caçando outra coisa que não o javali deve prestar contas à justiça pelos seus atos.
Relatos da invasão de javalis no Brasil remontam a década de 1980. Mas foram nos últimos dez anos que eles mostraram realmente que chegaram pra ficar: uma espécie com potencial invasor sem precedentes, ameaçando a biodiversidade brasileira por competir por recurso e espaço com as espécies nativas e por promover alterações físicas profundas nos habitats, além de serem destruidores da agricultura e pecuária, hospedeiros e vetores de zoonoses e de doenças de importância econômica, o que só agrava sua insustentabilidade socioambiental quando fora de controle.
A declaração da nocividade dos javalis (IN 03/2013 do IBAMA) era evidente e nem precisaria ter esperado chegar à situação que chegou o Brasil hoje para fazê-lo – são mais de 1500 municípios afetados em todas as regiões do país. Uma vez sob esse status, seu controle deveria estar imediatamente autorizado como previsto em lei federal. Mas o paradigma vigente da gestão de fauna no país e a burocracia parecem agir no sentido de proteger o javali. Por exemplo, o sistema informatizado preparado pela EMBRAPA e cedido ao MMA – o SIMAF – não foi implantado até hoje, pois, lá no IBAMA, o gabinete responsável seria contra a caça e por isso não quer ver funcionando algo que beneficiaria a gestão do problema. É inconcebível ainda dependermos de um sistema de gestão ultrapassado.
Há muito diletantismo nas discussões sobre como controlar javalis. Os termos ‘erradicação’ e ‘esterilização’, por exemplo, revelam o raso conhecimento do problema por parte de quem os recomenda. As experiências de sucesso de erradicação de javalis pelo mundo são raras, e ocorreram na sua maioria em ilhas onde a recolonização natural é quase impossível devido ao isolamento. Não existe até hoje solução prática e viável do problema em escala continental que envolva esterilização. Por isso, no geral, se fala em controle populacional e mitigação de impactos.
Quando falamos de programas de controle de javalis em escala continental como a brasileira, devemos olhar para experiências similares ao redor do mundo. A caça de controle é recomendada em todos os países afetados pelo problema e não capricho de pesquisadores, caçadores e gestores ambientais tupiniquins. O conflito de interesses dessa estratégia é evidente: caçadores não estão interessados no extermínio da população, o que poderia significar o fim de sua atividade. Porém, assim como a caça predatória – e não regulamentada – leva espécies nativas à extinção, a caça do javali pode ter efeito similar na redução da densidade e crescimento populacional.
“A caça de controle é recomendada em todos os países afetados pelo problema e não capricho de pesquisadores, caçadores e gestores ambientais tupiniquins.”
Técnicas aditivas são necessárias. Armadilhas currais, por exemplo, podem aprisionar bandos inteiros e ter um efeito ainda maior na redução das populações. No entanto, não se pode subestimar os javalis: se não operada corretamente, os animais tem grandes chances de aprender que as armadilhas são um risco e jamais cairão na arapuca.
Acredita-se que as populações de javalis na Europa – continente de sua distribuição nativa – crescem a uma taxa de 5% a 15% anual, o que significaria uma população 2 vezes maior do que é hoje em apenas 5 a 15 anos. E por lá existem pelo menos 7,5 milhões de caçadores ativos. Por aqui contamos com um efetivo de cerca de 30 mil caçadores regulamentados, uma fração de 0.5% da Europeia, apesar da pouca diferença em extensão territorial. Não obstante, a EFSA (a autoridade europeia em saúde animal) recomenda o recrutamento de novos caçadores como estratégia para diminuir as densidades populacionais dos javalis por lá.
Diferentemente da Europa, os javalis no Brasil são em sua maioria híbridos do cruzamento com o porco doméstico, podendo apresentar crescimento populacional ainda maior, pois podem ter herdado do porco a capacidade de gerar proles mais numerosas. Aliado à isso, o ambiente, as lavouras e os rebanhos brasileiros proporcionam alimento em abundância o ano todo, o que acelera ainda mais o crescimento e expansão do javali no país. Qualquer controle que queira frear o crescimento populacional desses animais deve objetivar a remoção anual de 65% da população. Se com caçadores já é difícil, que dirá sem eles.
O Brasil precisa parar de perseguir os poucos caçadores legalizados e treinados a controlar javalis que existem e que nos prestam esse serviço gratuitamente. Enquanto discutimos se é certo ou não caçar, e quais os inúmeros documentos que os controladores devem ter para fazer o abate, os javalis prosperam. O risco de uma crise econômico-ambiental de larga proporção é iminente.
Este é um problema que vai de ambientalistas à pecuaristas. Se o cenário de gestão do problema dos últimos anos prevalecer no futuro, seremos testemunhas do agravamento dos danos econômico-ambientais e dos riscos para a saúde humana. Esperamos que recomendações técnicas e científicas norteiem a tomada de decisões e que possamos tratar deste assunto com a seriedade que merece.
Dê: ECO