Em 5 de abril de 2018, quando foi chamado para depor na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) sobre o homicídio de Marielle e Anderson, Zico Bacana confirmou a identificação de duas pessoas. Além de Marcos Dias, seu chefe de gabinete, também estava no elevador da Câmara o sobrinho dele, Jadir Júnior. No entanto, o então vereador não soube dizer quem era o terceiro homem na fotografia, reprodução da imagem captada no elevador, mostrada pelos agentes. A pessoa, até então estranha, vestia camisa estampada e usava boné. As informações são do jornal O Globo.
Os policiais chamaram Marcos Dias para depor, o que ocorreu no dia seguinte. O chefe de gabinete, acompanhado do mesmo advogado de Zico Bacana, confirmou que o então vereador não conhecia a pessoa que desceu com ele no elevador. Segundo ele, o homem de camisa estampada e boné era um guarda municipal de Magé, na Baixada Fluminense. Dias disse à polícia que a pessoa esteve no gabinete do vereador Jonas Moura, que também é guarda municipal, e que o encontrou na Câmara.
Cinco anos após a morte de Marielle e Anderson, os assassinatos de Zico Bacana; do irmão dele, Jorge Tavares; e Marlon Correia dos Santos, na noite de segunda-feira, fizeram com que os investigadores do caso voltassem a ter a atenção voltada para a possibilidade de haver alguma ligação entre os crimes. Os cinco foram executados numa emboscada na capital.
Quando depôs, menos de um mês depois do homicídio da vereadora, Zico Bacana, que era policial militar, chegou a manifestar certo incômodo pelas críticas que Marielle fazia à PM. Segundo ele , "Marielle, normalmente, usava a palavra para atacar as instituições governamentais, sobretudo, a Polícia Militar do Rio de Janeiro".
O então vereador disse ainda à polícia que "Marielle nunca temeu em seus discursos se posicionar desfavoravelmente às atuações que eram realizadas corriqueiramente pela Polícia Militar no Rio de Janeiro, no enfrentamento do crime cotidiano, sendo certo que, para Marielle, aquelas atuações, via de regra, eram consideradas arbitrárias". Para o então parlamentar, o 41º BPM (Irajá) seria um dos alvos.
Como exemplo, Zico Bacana citou a morte da estudante Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, na quadra de esportes da Escola Municipal Jornalista e Escritor Daniel Piza, em Acari, no dia 30 de março de 2017. A perícia confirmou que o tiro partiu da arma de um policial militar.
Ele lembrou também que, na semana do assassinato de Marielle, soube pela imprensa, que a vereadora acusou policiais do quartel de Irajá, na Zona Norte, de agredir jovens em Acari, após uma operação policial. Os policiais eram lotados no mesmo quartel do agente acusado de matar Maria Eduarda, um ano antes.
Segundo Zico Bacana, no dia do homicídio da parlamentar, ele deixou a Câmara dos Vereadores por volta de 18h. De lá, foi ao restaurante Amarelinho, também na Cinelândia, onde fica a casa legislativa, acompanhado da mulher e de dois sobrinhos, ficando duas horas e meia no local. Como havia jogo do Flamengo, resolveu ir para casa com a família. Às 22h, disse ele, soube da morte de Marielle por meio de um grupo de WhatsApp de vereadores.
Zico Bacana confirmou fazer parte da "bancada da bala" da Câmara dos Vereadores, justificando que, por ser policial militar, colegas parlamentares o classificaram como integrante do grupo que defende o uso de armas por civis.
O ex-vereador morto foi citado na CPI das Milícias como integrante do grupo organizado que atua nas favelas da Palmeirinha e da Eternit, em Guadalupe, seu reduto eleitoral. Ele era segundo-sargento da PM e contou à polícia que se candidatou em 2016 pelo PHS, sendo eleito com 7.932 votos, assumindo o mandato em 2017. Tanto ele como Marielle eram novatos na Câmara dos Vereadores na época.
O Globo