
04/01/2025 | 3 min de leitura
O projeto da Butanvac, anunciado em 2021 pelo então governador de São Paulo, João Doria, como uma solução pioneira para garantir a autossuficiência do Brasil em vacinas contra a Covid-19, foi interrompido após três anos de pesquisas e testes.
Em reportagem publicada neste sábado (4) pela Folha de S.Paulo, o imunizante enfrentou desafios técnicos, políticos e estratégicos que comprometeram sua viabilidade. Embora anunciado como 100% nacional, o desenvolvimento da Butanvac dependia do vírus da doença de Newcastle, criado por cientistas do Mount Sinai, em Nova York, com apoio da PATH e da Fundação Bill e Melinda Gates.
A proposta inicial da vacina prometia baixo custo – aproximadamente R$ 10 por dose – e produção com tecnologia já dominada pelo Instituto Butantan, utilizando ovos embrionados de galinha. No entanto, o anúncio precipitado e a omissão sobre a origem internacional da tecnologia geraram atritos com os desenvolvedores e ameaçaram parcerias internacionais. Mesmo assim, o Butantan começou a produzir doses antes da conclusão dos estudos clínicos, apostando no sucesso rápido do imunizante.
Obstáculos e limitações técnicas
Os testes da fase 2, finalizados em 2024, mostraram que a eficácia da Butanvac era inferior à da vacina Comirnaty (Pfizer), que se tornou referência no combate à Covid-19. Especialistas, como o infectologista Sérgio Nishioka, apontaram que a falta de planejamento realista e foco estratégico prejudicaram o projeto.
Embora variantes da plataforma tenham obtido aprovações emergenciais no México e na Tailândia, a necessidade de adaptações locais dificultou o progresso do imunizante brasileiro. Além disso, Maurício Nogueira, virologista da Faculdade de Medicina de Rio Preto, afirmou que as vacinas de RNA mensageiro, como a da Pfizer, apresentaram vantagens superiores, com respostas imunológicas mais robustas e maior flexibilidade para atualizações frente às novas variantes.
O futuro do Instituto Butantan
Com o encerramento da Butanvac, o Instituto Butantan volta sua atenção para tecnologias inovadoras. Entre as iniciativas, destacam-se a construção de uma fábrica de vacinas de RNA mensageiro, prevista para 2027, e pesquisas em andamento para o desenvolvimento de uma vacina contra a gripe aviária. O objetivo é posicionar o Brasil na vanguarda das soluções imunológicas globais.