“Considero a internet uma ilusão econômica muito grande e poderosa. Acho que empresas como Google e Facebook não têm o verdadeiro espírito democrático, pois inventaram um produto para vender que é o que a humanidade mais anseia: a liberdade. Fizeram plataformas que são prédios físicos, instalações industriais gigantescas, e chamaram isso de “nuvem”, o que é uma mentira, pois não há nuvem nenhuma e, sim, prédios enormes, cabos espalhados pelo planeta, satélites caríssimos voando por aí… Tudo isso tem um custo altíssimo e, no entanto, chamaram isso de nuvem para aparentar que, agora, habitamos em algo imaterial.

Porém, algo imaterial não teria custo, o que não acontece nessas empresas, que estão bilionárias e avançam poderosamente sobre todas as áreas da economia com pouquíssimo conhecimento sobre a classe política, o público e as consequências disso tudo.

Eu vejo a internet com grande preocupação, entretanto, ninguém ilude a população com apenas uma mentira. A melhor mentira é aquela que é feita com muitas verdades, mas que, quando unidas, não contam uma verdade e sim uma mentira. A internet, de fato, lhe dá a possibilidade de gravar um vídeo e colocá-lo no ar, mas a raiz do problema é mais profunda.

A internet oferece liberdade de conteúdo, mas a empresa é desinteressada do conteúdo: essa última permite que você diga o que quiser porque o seu negócio não é afetado pelo conteúdo. Qualquer conteúdo, para ela, é um bom negócio. Se eu, por exemplo, for um radical de esquerda ou de direita ou até mesmo um racista, qualquer uma dessas coisas, gerando “likes”, será boa para o seu negócio.

Ao contrário da China, tais empresas descobriram que controlar o conteúdo é inútil – elas controlam o dinheiro, e quem controla o dinheiro não precisa controlar o conteúdo. Então, em minha opinião, a humanidade inteira trabalha para a Google, enquanto essa nos paga somente um pouquinho, com um dinheiro que não sabemos exatamente de onde vem ou quanto é ou qual a sua fonte de receita. Não é à toa que eles estão bilionários. Acredito que a indústria internet é organizada para que se cometam crimes, mas ela oferece alguma liberdade, pois essa liberdade não atinge o crime que eles estão cometendo.

Eu não acredito em um milionário. Não há modos de uma pessoa ficar milionária que não seja roubando os outros.”

Transcrição adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho da participação de Pedro Cardoso no Canal Leda Nagle.

Confira na integra:

Pedro Cardoso  é um ator, redator, roteirista, autor, escritor e humorista brasileiro, célebre por seu papel como Agostinho Carrara no seriado da Rede Globo de Televisão A Grande Família.

COM: PROVOCAÇÕES FILOSÓFICAS