Segundo autora do estudo, mulheres negras apresentaram maior probabilidade de adoecer devido ao uso mais intenso desses produtos e com formulações mais fortes
Cientistas estão descobrindo novos detalhes na conexão entre o uso de certos produtos para alisamento de cabelo, como relaxantes químicos e produtos que usam alisadores de pressão, e o risco de câncer em mulheres.
Pesquisas em andamento sugeriram anteriormente que produtos químicos para alisamento de cabelo estão associados a um risco maior de certos cânceres relacionados a hormônios, incluindo câncer de mama e ovário, e agora, um novo estudo também vincula o uso de produtos de alisamento de cabelo a um maior risco de câncer uterino.
As mulheres negras podem ser as mais afetadas devido ao maior uso dos produtos, observaram os pesquisadores.
O estudo, publicado na segunda-feira (17) no site científico Journal of the National Cancer Institute, estima que, entre as mulheres que não usaram produtos químicos para alisar o cabelo nos últimos 12 meses, 1,6% desenvolveram câncer uterino aos 70 anos, mas cerca de 4% das mulheres que frequentemente usaram esses produtos para alisamento do cabelo desenvolveram câncer uterino aos 70 anos.
Essa descoberta “também comunica que o câncer uterino é realmente raro. No entanto, a duplicação do risco leva a alguma preocupação”, disse Chandra Jackson, autora do estudo e pesquisadora do Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental.
“Neste estudo, as mulheres com uso frequente no ano passado tiveram um risco duas vezes maior de câncer uterino”, disse ela. O uso frequente foi definido como mais de quatro vezes no ano anterior.
Risco de câncer incide mais em mulheres negras
O novo estudo inclui dados de quase 34 mil mulheres nos Estados Unidos, com idades entre 35 e 74 anos, que preencheram questionários sobre o uso de certos produtos capilares, incluindo permanentes, tinturas, relaxantes e alisadores.
Os pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde também acompanharam a incidência de diagnósticos de câncer dentro do grupo de estudo.
Os pesquisadores encontraram uma forte associação entre produtos de alisamento e casos de câncer uterino, mas o uso de outros produtos capilares – como tinturas e permanentes ou produtos para ondular – não foram associados ao câncer uterino.
Os dados do estudo também mostraram que a associação entre produtos de alisamento e casos de câncer uterino foi incidiu mais as mulheres negras, que representavam apenas 7,4% das participantes do estudo, mas 59,9% das que relataram usar alisadores de cabelo.
Vários fatores provavelmente desempenham um papel no uso frequente de produtos de alisamento capilar: padrões eurocêntricos de beleza, pressões sociais impostas a mulheres negras e latinas em ambientes de trabalho relacionadas a microagressões e à ameaça de discriminação, juntamente com a versatilidade desejada na mudança de penteados e autoexpressão.
“O resultado final é que a carga de exposição parece ser maior entre as mulheres negras”, disse Jackson.
“Com base no corpo da literatura nesta área, sabemos que os produtos capilares comercializados diretamente para crianças e mulheres negras contêm vários produtos químicos associados a desreguladores de hormônios, e esses produtos comercializados para mulheres negras também demonstraram ter formulações químicas mais fortes”, disse ela.
“Além disso, sabemos que as mulheres negras tendem a usar vários produtos simultaneamente, o que pode contribuir para que elas tenham, em média, concentrações mais altas desses produtos químicos desreguladores de hormônios em seu sistema”.
Os pesquisadores não coletaram informações sobre marcas ou ingredientes nos produtos capilares que as mulheres usavam, mas escreveram no artigo que vários produtos químicos identificados em alisadores podem contribuir para o aumento da incidência de câncer uterino observado no estudo.
“Até onde sabemos, este é o primeiro estudo epidemiológico que examinou a relação entre o uso de alisadores e câncer uterino”, disse Alexandra White, chefe do grupo de Epidemiologia do Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental e Epidemiologia do Câncer e principal autora do estudo.
“Mais pesquisas são necessárias para confirmar essas descobertas em diferentes populações, para determinar se os produtos capilares contribuem para as disparidades de saúde no câncer uterino e para identificar os produtos químicos específicos que podem estar aumentando o risco de câncer nas mulheres”.
“Uma nova e crescente área de pesquisa”
Algumas substâncias encontradas em produtos para alisar o cabelo, especialmente aqueles mais usados e comercializados para mulheres negras e latinas, são substâncias químicas que desregulam os hormônios, disse Tamarra James-Todd, epidemiologista da Harvard T.H. Chan School of Public Health, que não esteve envolvida no estudo, mas liderou separadamente algumas das primeiras pesquisas que encontraram ligações entre produtos capilares e câncer.
“Elas modificam os processos hormonais normais do nosso corpo. Então, faz sentido olhar para os cânceres que são mediados por hormônios”, disse ela, acrescentando que os produtos químicos que desregulam os hormônios também podem afetar outras partes do corpo.
“O desafio é que o impacto desses produtos químicos pode não se limitar aos processos hormonais, mas também pode afetar outros sistemas, incluindo nossos sistemas imunológico e vascular. Compreender como esses produtos químicos funcionam além do sistema hormonal ainda é uma área de pesquisa nova e crescente”, disse James-Todd à CNN.
“Então, pode ser que a maneira como esses produtos químicos estejam operando, como alterando não apenas as respostas hormonais, mas também alterando as respostas imunes ou até vasculares”, disse ela. “Todos esses processos estão ligados ao câncer”.
Embora o novo estudo seja “bem feito” e mostre uma associação entre produtos químicos para alisamento de cabelo e aumento do risco de câncer uterino, não é possível determinar se os produtos causam diretamente o câncer, disse à CNNOtis Brawley, professor da Johns Hopkins University Bloomberg School of Public Health e ex-diretor médico da American Cancer Society.
“É incapaz de mostrar a causa, pode ser pura associação”, disse Brawley, que não esteve envolvido no novo estudo.
No entanto, “a questão de como resolver isso é difícil. O ideal científico é um ensaio randomizado de 40 mil ou mais; 20 mil com uso regular de alisador de cabelo e 20 mil que nunca o usam e nunca o usaram e acompanhar essas pessoas por 20 anos”, disse ele, acrescentando que, neste momento, “é impossível que a ciência responda melhor do que” o estudo recente.
COM: CNN/TBN