Os efeitos negativos na saúde daqueles que observaram o Eclipse Solar sem proteção começaram a aparecer aproximadamente 48h após o fenômeno. O primeiro caso relatado refere-se a uma mulher de 22 anos que observou, por poucos segundos, o evento astronômico sem proteção alguma e desenvolveu retinopatia solar, uma lesão foto-traumática. A paciente foi atendida no Hospital dos Olhos de Parnamirim e o eclipse ocorreu no último sábado (14). As informações são da Tribuna do Norte.
O médico responsável pelo atendimento é o doutor Jaime Martins. Ele detalha que a mulher começou a ver uma mancha branca no centro da visão do olho afetado logo após a observação. Essa mancha persistiu ao longo dos dias e ela, então, decidiu procurar tratamento.
Doutor Jaime Martins explica o tipo de lesão diagnosticada e qual parte do olho ela danifica. “Acomete a região central da retina, onde a gente tem a formação da visão de detalhes. [A lesão é] causada diretamente pela exposição a uma fonte de luz. É bastante comum quando ocorre eclipse porque muitas pessoas olham diretamente para o sol por um tempo prolongado. Esse prolongamento são alguns segundo mesmo, não é coisa de ficar horas, mas pode ocorrer até olhando para uma outra fonte de luz por um tempo prolongado”, disse.
A retinopatia ocorre como uma queimadura nas camadas mais internas da retina e pode ser identificada a partir dos sintomas de piora na qualidade da visão, o aparecimento de uma mancha branca no centro da visão logo após a exposição a uma fonte luminosa, que pode ser o sol ou até mesmo uma luz artificial. “A gente confirma o diagnóstico através do exame de fundo de olho e da retinografia. Esses exames servem para que a gente tenha uma suspeita da retinopatia solar e a confirmação com um exame chamado OCT [Tomografia de Coerência Óptica]”, complementa.
A má notícia é que não existe um tratamento com capacidade de curar a retinopatia solar. Em alguns casos, no entanto, a lesão pode regredir e deixar o paciente sem sequelas, mas em outros, a retina pode atrofiar. Neste caso, o médico diz que não tem o que fazer.
“Infelizmente não existe um tratamento curativo para retinopatia solar, mas alguns casos, após algumas semanas, regridem e deixam o paciente sem sequelas. Outros levam à uma atrofia e infelizmente não tem o que fazer. Em alguns outros casos, futuramente, pode evoluir para a formação de uma membrana neovascular, que se forma embaixo da retina e, nesses casos, podemos fazer o tratamento com injeções dentro do olho. Na maioria dos casos, eles regridem ou levam à atrofia e não tem tratamento”, detalha.
Martins, que compartilhou em suas redes sociais os detalhes sobre o caso, lamentou dizendo que, mesmo com todas as informações divulgadas acerca da forma correta de observar o fenômeno, as pessoas ainda olharam diretamente para o sol sem a proteção adequada. Ele aponta ainda para a hipótese de que mais pessoas estão passando pelo mesmo problema, seja na cidade ou outros lugares com menos acesso à informação.
“Mesmo com toda a divulgação sobre a forma correta de observar o fenômeno, isso foi só o primeiro caso que já apareceu em nosso hospital 48h após o eclipse. Imaginem quantos ainda podem surgir de pessoas que não se protegeram, que perceberam que estão com alguma dificuldade na visão, mas acreditam que vão voltar naturalmente ou, ainda, aquelas pessoas que moram em áreas mais afastadas, no interior, por exemplo, e que têm menos acesso à informação?”, questiona.
Instituições distribuíram gratuitamente o material
Para tentar sanar o problema, algumas instituições como a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com a Agência Espacial Brasileira, distribuíram aproximadamente 13.780 lentes de proteção gratuitamente. Sendo 10 mil dadas pela NASA, a agência de Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos. A ação ocorreu no Centro Cultural Trampolim da Vitória (CCTV), localizado no antigo Aeroporto Augusto Severo, que contou com programação durante todo o dia.
No Parque da Cidade, local que atraiu cerca de 2,5 mil pessoas para observar o eclipse, professores e alunos da UFRN deram instruções de como observar o eclipse para que todos tivessem o tempo de observação e descanso necessários para não prejudicar a visão.
Potiguares enfrentaram dificuldades para encontrar lente de proteção
Ao longo das semanas, a TRIBUNA DO NORTE divulgou amplamente os cuidados necessários para a observação do eclipse. De acordo com os médicos oftalmologistas, era preciso utilizar uma lente de proteção nº 14, comumente encontrada em lojas de construção na seção de EPI’s. No entanto, com a crescente procura à medida que se aproximava o dia da observação, o equipamento se esgotou em diversas lojas de Natal e Região Metropolitana.
Portanto, diversos potiguares enfrentaram dificuldades para encontrar a lente. Alguns chegaram a procurar em diversas lojas em Natal e demais bairros da região metropolitana, mas sem sucesso. Outras pessoas, inclusive, começaram a divulgar nas redes sociais a frustração de não ter encontrado o material.
Além disso, houve uma grande comercialização por parte de pessoas autônomas que, devido a grande procura, elevaram o preço, que chegou a R$60. Em entrevista anterior à TN, o programador, Guilherme Moreira, 28, comentou a dificuldade para encontrar o material.
“Eu fui buscar vários materiais de construção, seja aqui em Nova Parnamirim, que é onde eu resido, seja em outros bairros como Satélite e Planalto, que é onde minha família reside e em nenhum dos lugares eu consegui achar. Uma lente dessa custa R$5 ou R$10 no máximo e eu vi pessoas vendendo por R$15, R$20, R$60, e nos últimos dias eu não consegui [comprar], mesmo entrando em contato com essas pessoas que estavam vendendo mais caro”, relatou.
Tribuna do Norte