Noel de Medeiros Rosa OMC (Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1910 — Rio de Janeiro, 4 de maio de 1937) foi um sambista, cantor, compositor, bandolinista, violonista brasileiro e
um dos maiores e mais importantes artistas da música no Brasil.[1] Teve
contribuição fundamental na legitimação do samba de morro e
no "asfalto", ou seja, entre a classe média e
o rádio, principal meio de comunicação em sua época - fato de
grande importância, não só para o samba, mas para a história
da música popular brasileira.[2][3] Morto
prematuramente aos 26 anos por decorrência da tuberculose,
deixou um conjunto de canções que tornaram-se clássicas dentro do cancioneiro
popular brasileiro.
Em
2016 foi agraciado in memoriam com a Ordem do Mérito Cultural do Brasil, na
classe de grão-mestre.
Biografia
Noel Rosa nasceu de um parto muito
difícil e complicado, que incluiu o uso de fórceps pelo
médico obstetra, como medida para salvar as vidas da mãe e bebê. Além disso,
nasceu com hipoplasia (desenvolvimento limitado) da mandíbula
(provável Síndrome de Pierre Robin) o que lhe marcou
as feições por toda a vida e destacou sua fisionomia bastante particular.
Nascido na Rua Teodoro da Silva, 130,
no bairro carioca de Vila Isabel, foi primeiro filho do comerciante Manuel de
Medeiros Rosa e da professora Martha de Medeiros Rosa.[5] Noel era de
família de classe média, tendo estudado no tradicional Colégio de São Bento, onde, apesar da
inteligência notável, não era aplicado nos estudos.
Adolescente, aprendeu a tocar
bandolim de ouvido e tomou gosto pela música — e pela atenção que ela lhe
proporcionava. Logo, passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida da boemia
carioca. Em 1931 entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de
estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio ao samba e
noitadas regadas à cerveja. Noel foi integrante de vários grupos musicais,
entre eles o Bando de Tangarás desde 1929, ao lado
de João de Barro (o Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito.
Em 1929, Noel arriscou as suas
primeiras composições, Minha Viola e Festa no Céu,
ambas gravadas por ele mesmo. Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o
lançamento de Com que roupa?, um samba bem-humorado que sobreviveu
décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro. Essa música ele se
inspirou quando ia sair com os amigos, a mãe não deixou e escondeu suas roupas,
ele, com pressa perguntou: "Com que roupa eu vou?"
Noel revelou-se um talentoso cronista
do cotidiano, com uma sequência de canções que primam pelo humor e pela veia
crítica. Orestes Barbosa, exímio poeta da canção, seu
parceiro em Positivismo, o considerava o "rei das
letras". Noel também foi protagonista de uma curiosa polêmica (Noel Rosa X
Wilson Batista) travada através de canções com seu rival Wilson Batista.
Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e
bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo
clássicos de Noel como Feitiço da Vila e Palpite
Infeliz. Entre os intérpretes que passaram a cantar seus sambas,
destacam-se Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de Almeida.
Autodidata, Noel aprendeu a tocar
bandolim de ouvido pelos bares da Vila Isabel e tomou gosto pela música. No ano
de 1930, quando a canção popular começou a se firmar e o samba passou a definir
a linhagem autêntica como raiz própria e brasileira. Noel Rosa ganhou destaque
e preferência entre os ouvintes de rádio e participantes dos carnavais de rua
do Rio de Janeiro. Sua música conquistava a todos pela autenticidade: falava de
amor, de encontros desencontros, do cotidiano.
Registro profissional de Noel Rosa (1935). |
Noel teve ao mesmo tempo várias
namoradas e foi amante de muitas mulheres casadas. Casou-se em 1934 com sua noiva,
uma moça da alta sociedade carioca, chamada Lindaura. Apesar de ter afeto e
carinho pela esposa, era apaixonado mesmo por Ceci, apelido de Juraci Correia
de Araújo, a prostituta do cabaré,
e sua amante de longa data. Era tão apaixonado por ela, que ele escreveu e fez
sucesso com a música "Dama do Cabaré", inspirada em Ceci, que mesmo
na vida fácil, era uma dama ao se vestir e ao se comportar com os homens, e o
deixou totalmente enlouquecido pela sua beleza. Foram anos de caso com ela,
eles se encontravam no cabaré a noite e passeavam juntos, bebiam, fumavam,
jogavam, andavam noite a fora sem destino, principalmente pelo bairro carioca
da Lapa, onde se localizava o cabaré. Ele dava-lhe
presentes, joias, perfumes e ela o compensava com noites inesquecíveis de amor.
Ele queria tirá-la da vida e fazê-la sua esposa, mas seria um escândalo social
e a família jamais aceitaria uma meretriz na família. Ele pensou melhor e
tentou dar uma casa para Ceci, para que ela só se deitasse com ele, onde se
encontrariam escondidos e a sustentaria. Ceci se recusou, não queria depender
de homem para sobreviver, e queria alguém que a assumisse como esposa. Após
mais alguns anos juntos, o ciúme doentio de Noel por Ceci a fez terminar a
relação, que ficou entre idas e vindas por um bom tempo, até que se afastaram de
vez.
Tuberculose e morte
Carta de Noel Rosa
a seu médico em 1935
Em depressão por alguns meses pela
separação de Ceci, Noel passou os anos seguintes travando uma batalha contra
a tuberculose.
A vida boêmia, porém, nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o
artista, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais
puro, sempre voltava ao samba, à bebida e ao cigarro, nas noites cariocas,
cercado de muitas mulheres, a maioria, suas amantes. Mudou-se com a esposa para Belo Horizonte,
para tratar de seu problema pulmonar, ainda inicial e não transmissível pelo
ar, e para salvar seu casamento, já que gostava de sua esposa, mas ela ameaçava
se separar, pois não suportava mais as traições e bebedeiras do marido, mas se
separar naquela época era um peso e uma vergonha enormes para a mulher, e por
isso Lindaura reconsiderou, e também queria salvar seu matrimônio.
Sem
planejar, Lindaura engravidou, mas sofreu um aborto espontâneo no meado de sua
gestação, e, devido as complicações por causa da forte hemorragia, afetando seu
aparelho uterino, não pôde mais ter filhos, o que a deixou muito revoltada e
deprimida. Foi por isso que Noel Rosa não foi pai, o que o deixou muito mal, já
que era seu maior desejo.
Da capital mineira, escreveu ao seu médico, Dr. Graça
Melo: “Já apresento melhoras/Pois levanto muito cedo/E deitar às nove
horas/Para mim é um brinquedo/A injeção me tortura/E muito medo me mete/Mas
minha temperatura/Não passa de trinta e sete/Creio que fiz muito mal/Em
desprezar o cigarro/Pois não há material/Para o exame de escarro".
Trabalhou na Rádio Mineira e entrou em contato com
compositores amigos da noite, como Rômulo Pais,
recaindo sempre na vida boêmia. O fato de não ter parado de beber e fumar, não
fazer repouso absoluto e continuar pegando sereno nas madrugadas, pioraram sua
tuberculose. De volta ao Rio, sentindo-se bem melhor, parou com as medicações,
e jurou estar curado, mas poucos dias depois adoeceu fortemente, não
conseguindo mais se alimentar e nem levantar da cama, faleceu repentinamente em
sua casa, no bairro de Vila Isabel no ano de 1937, aos 26 anos, em consequência
da doença que o perseguia há alguns anos. Deixou sua esposa viúva e desesperada.
Lindaura, sua mulher, e Dona Martha, sua mãe, cuidaram de Noel até o fim. Seu
corpo encontra-se sepultado no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.