Em resposta à
Venezuela, Brasil decide expulsar principal diplomata do país
Itamaraty se adianta a notificação
oficial de Caracas, que não chegou dias após anúncio
Maduro e Temer: farpas após impeachment -
Montagem / AP e AFP
BRASÍLIA - Após três dias do anúncio
da expulsão do embaixador brasileiro em Caracas, Ruy Pereira,
o Itamaraty se adiantou ao comunicado oficial da Venezuela e
decidiu aplicar reciprocidade, declarando como persona non grata o encarregado
de negócios do país vizinho em Brasília, Gerardo Antonio Delgado Maldonado. Há
mais de um ano, não há embaixador venezuelano no Brasil. O diplomata do país
vizinho Alberto Efraim Castellar Padilla, que havia sido designado para o
posto, jamais apresentou credenciais para trabalhar na capital brasileira,
segundo informou o Ministério das Relações Exteriores.
A crise diplomática entre Brasil e
Venezuela teve início com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em
meados de 2016. Caracas classificou a deposição de Dilma como golpe de Estado.
As relações foram azedadas ainda mais com a posição claramente contrária do
presidente Michel Temer ao governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro. O
Brasil e os demais países do Mercosul decidiram expulsar a Venezuela do bloco,
entre outras medidas de represália, incluindo notas de repúdio à violência e a
prisões que vêm ocorrendo naquele país.
O senador Aloysio Nunes fala com a
imprensa no Aeroporto Internacional de Caracas: visita frustrada à líderes
políticos da oposição venezuelana Foto: AFP
Comitiva barrada
Em junho
de 2015, uma comitiva de senadores brasileiros foi à Venezuela para reunir-se
com líderes da oposição a Nicolás Maduro. Piquetes e hostilidades de grupos
chavistas na saída do aeroporto de Caracas impediram o prosseguimento do grupo,
aumentando a pressão política e diplomática ao governo Dilma Rousseff, aliado
de Maduro.
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Três dias após a Assembleia
Constituinte da Venezuela declarar o embaixador brasileiro em Caracas, Ruy
Pereira, persona non grata — o que significa que o diplomata será expulso —, o
Brasil ainda não recebeu a notificação oficial. Pereira está no Brasil, onde pretendia
passar as festas de fim de ano. Por sua vez, o Canadá, cujo embaixador também
teve a retirada ordenada pelo chavismo, aplicou a reciprocidade durante o
Natal.
Pereira foi declarado persona non grata
pela Assembleia Nacional Constituinte (ANC) chavista no último sábado. Em nota
divulgada no mesmo dia, o Itamaraty disse que “tomou conhecimento” da expulsão
do diplomata brasileiro e que “caso confirmada, essa decisão demonstra, uma vez
mais, o caráter autoritário da administração de Nicolás Maduro e sua falta de
disposição para qualquer tipo de diálogo”. O Itamaraty não tem nenhuma previsão
de enviar outro embaixador brasileiro a Caracas.
A presidente da Constituinte da
Venezuela, a ex-chanceler Delcy Rodríguez, confirmara ainda a declaração de
persona non grata do encarregado de negócios da Embaixada do Canadá, Craib
Kowalik.
— No âmbito da competência da
Assembleia Constituinte, decidimos declarar como persona non grata o embaixador
do Brasil até que se restitua o fio constitucional que o governo de fato rompeu
neste país-irmão — afirmou Delcy, acusando Brasil e Canadá de “permanente e
grosseira intromissão nos assuntos internos da Venezuela” e questionando a legitimidade
do governo de Michel Temer.
Na semana anterior, ambos os países
questionaram a recente decisão adotada pela Constituinte de dissolver dois
governos municipais — Grande Caracas e Alto Apure — por motivos aparentemente
políticos. Tanto o Itamaraty quanto vários países latino-americanos vêm
endurecendo a postura crítica com a Venezuela, isolando-a diplomaticamente em
instâncias como OEA e Mercosul.
O embaixador brasileiro retornara a
Caracas em julho depois de permanecer nove meses no Brasil pela tensão política
entre os dois países. O diplomata havia sido chamado ao Brasil para consultas
em setembro do ano passado, após o governo de Maduro congelar vínculos no
rastro de duras críticas feitas ao processo de impeachment de Dilma. Diante do
recrudescimento da crise política no país vizinho, o Itamaraty julgou que seria
importante manter um representante com o status máximo em Caracas.
O Canadá, por sua vez, afirmou que o
embaixador venezuelano “já não é bem-vindo”, declarando-o persona non grata em
represália à expulsão de Caracas do encarregado de negócios canadense. O
embaixador já havia sido retirado pelo governo do presidente Nicolás Maduro em
protesto pelas sanções canadenses contra funcionários venezuelanos envolvidos
em atos de corrupção e violações dos direitos humanos — na sexta-feira, Ottawa
decidiu, entre outras medidas, proibir a presença em seu território de 52
funcionários de Venezuela, Rússia e Sudão do Sul por corrupção ou violações dos
direitos humanos.
A expulsão de Craig Kowalik é “típica
do regime de Maduro, que tem minado todos os esforços para restaurar a
democracia e ajudar o povo venezuelano”, denunciou a ministra canadense das
Relações Exteriores, Chrystia Freeland.
— Os canadenses não ficarão à margem
enquanto o governo da Venezuela despoja seu povo dos direitos fundamentais
democráticos e humanos, e lhes nega acesso à assistência humanitária básica —
destacou ela.
Dê: agências internacionais