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O cardiologista Fernando Costa, da BP — Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que qualquer órgão do corpo precisa de um treino para passar por uma atividade intensa – e com o coração não é diferente.
“O esforço físico de alguns se torna bastante intenso para aquilo que ele tem de preparo, e aí podem acontecer problemas sérios”, alerta Costa.
Em atividades que exigem um esforço maior, como a prática de esportes e a corrida, a adaptação deve ser constante.
“Os atletas de fim de semana, às vezes, estão complicando mais o coração do que fazendo bem para ele”, avisa o especialista.
De forma exemplificada, quando um atleta se contunde, ele não volta a fazer a atividade física no nível que estava antes da lesão. O mesmo ocorre com alguém que não pratica atividade física: ele não pode começar em um nível intenso, é uma construção.
“O que acontece é que as pessoas que não praticam esporte não têm atividade física adequada e, portanto, não treinam o coração. Chega no final de semana, resolvem fazer uma atividade física intensa”, diz Costa.
Os resultados dessa escolha são, por exemplo, elevações significativas da pressão arterial, arritmia e até parada cardíaca ou AVC (acidente vascular cerebral).
A situação piora quando essa atividade também é feita sem hidratação correta ou sem alongamento, por exemplo.
“Esse pessoal está praticando uma atividade física sem uma hidratação adequada, sem uma alimentação prévia adequada, e muitos, nos intervalos, tomando bebida alcoólica. Isso transforma aquela atividade em uma atividade muito mais intensa para o coração, ela se torna deletéria”, explica o cardiologista.
E acrescenta: “Você acha que aquele jogador, antes de entrar em campo, está fazendo alongamento, relaxamento? A pessoa entra direto, não faz nada, e o que acaba acontecendo? Lesões musculares, estiramentos, contusões, ruptura de tendão, e é por isso que acaba sendo muito ruim uma atividade física sem uma orientação adequada.”
Em entrevista ao R7 em 2021, o ortopedista Dennis Barbosa, do IOT-HCFMUSP (Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), alertou que a falta de preparo físico é a principal causa de qualquer tipo de lesão.
“Não é vetar ninguém de fazer [o esporte], mas o ideal é você se preparar um pouquinho fisicamente, ir à academia, voltar a ter um condicionamento respiratório bom também. Isso é importante porque senão a musculatura fica fadigada muito rapidamente”, orienta Barbosa.
A indicação também é manter um esforço físico regular de 150 minutos, em média, divididos entre os dias da semana, para deixar o coração adaptado. As pessoas devem ter em mente que a atividade física de final de semana não deve ser competitiva, mas sim recreativa.
Além disso, cada pessoa deve avaliar a atividade conforme a sua realidade, pois existem profissões que condicionam o corpo para um esforço mais intenso, outras não.
“Um exemplo: eu tenho duas mulheres, uma trabalha em um ofício que ela não tem atividade física, e a outra é uma dona de casa – passa, leva lixo, cuida de criança – e as duas vão fazer atividade física no final de semana. Qual das duas se dá melhor? Aquela que faz exercício. Quem faz exercício? O trabalho doméstico”, relata Costa.
Isso ocorre porque a atividade física doméstica é considerada moderada e, às vezes, intensa, então o indivíduo se prepara, de forma indireta, durante a semana.
Vale ressaltar que, independentemente da profissão ou do condicionamento, a prática de atividade física não é desestimulada. Porém, ela não deve ser competitiva, tem de ser acompanhada de uma hidratação e dieta adequada e de alongamentos e relaxamentos – antes e depois da prática.
“É sempre bom fazer uma coisa crescente, você adquirir o funcionamento físico adequado para você buscar uma performance melhor, se não pode buscar é complicação para a sua saúde”, diz o cardiologista.
Recomendações
Segundo Costa, o check-up geral ou avaliação cardiológica é sempre fundamental para saber se o indivíduo não tem nenhuma anormalidade cardíaca. A prevenção é a melhor forma de não passar por intercorrências durante a atividade física.
“A grande maioria dos indivíduos que têm complicações nos esforços ou nas atividades de final de semana tem uma doença de base, diagnosticada ou não diagnosticada”, conta o cardiologista.
Especialmente as pessoas com uma doença cardiovascular, que têm indicação para fazer atividade física, devem estar atentas a uma prática correta, neste caso, do tipo isotônica – caminhada em local plano ou musculação leve, por exemplo.
Ficar dolorido, mancando ou com mal-estar após o esforço físico também é um sinal que deve ser levado em consideração, já que indica que o corpo não está preparado para aquela intensidade.
As doenças cardiovasculares, principalmente o infarto e o AVC, já foram responsáveis pela morte de mais de 300 mil pessoas no Brasil apenas em 2022. O número equivale a 46 óbitos por hora, segundo a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).
Sendo assim, todo cuidado é pouco quando o assunto é a saúde do coração. “A doença cardiovascular vai aumentar em número, gênero e grau”, alerta Costa.
Créditos: R7.