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As pessoas que tiveram Covid-19 correm maior risco de desenvolverdistúrbios gastrointestinais dentro de um ano após a infecção, diz um estudo da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, publicado nesta terça-feira 7, na Nature Communications.
As condições incluem problemas hepáticos, pancreatite aguda, síndrome do intestino irritável, refluxo ácido e úlceras no revestimento do estômago ou intestino superior, além de uma maior probabilidade de constipação, diarreia, dor abdominal, inchaço e vômito. “Os problemas gastrointestinais foram os primeiros relatados pelos pacientes”, afirma Ziyad Al-Aly, epidemiologista clínico da Universidade de Washington e autor da pesquisa, que estudou extensivamente os efeitos a longo prazo. “Está cada vez mais claro que o trato gastrointestinal serve como um reservatório para o vírus da Covid-19.”
As novas descobertas se baseiam na pesquisa anterior de Al-Aly, que detalham os efeitos prolongados da Covid-19 no cérebro, coração, rins e outros órgãos. Desde o início da pandemia, em março de 2020, ele e sua equipe de pesquisa publicaram numerosos estudos frequentemente citados sobre os riscos estendidos à saúde do SARS-CoV-2, apontando cerca de 80 resultados adversos à saúde associados à Covid longa.
“Neste ponto de nossa pesquisa, as descobertas sobre o trato gastrointestinal e a Covid longa não nos surpreendem”, diz Al-Aly. “O vírus pode ser destrutivo, mesmo entre pessoas consideradas saudáveis ou que tiveram infecções leves. Estamos vendo a capacidade do SARS-CoV-2 atacar qualquer sistema do corpo, às vezes com sérias consequências a longo prazo, incluindo a morte”.
O sistema gastrointestinal inclui a boca, garganta, esôfago, estômago, intestino delgado e grosso, reto e ânus, bem como órgãos, como fígado e pâncreas, que produzem enzimas para auxiliar na digestão de alimentos e líquidos. As condições gastrointestinais variam de problemas estomacais leves a condições com risco de vida, como insuficiência hepática e pancreatite aguda.
Os pesquisadores estimam que, até agora, as infecções causadas pelo SARS-CoV-2 contribuíram para mais de 6 milhões de novos casos de distúrbios gastrointestinais nos Estados Unidos e 42 milhões de novos casos no mundo. “Este não é um número pequeno”, pontua Al-Aly, que trata pacientes no VA St. Louis Health Care System, onde é chefe de pesquisa e desenvolvimento. “É crucial incluir a saúde gastrointestinal como parte integrante dos cuidados pós-agudos da Covid.”
Risco aumentado
Para o estudo, os pesquisadores analisaram cerca de 14 milhões de registros médicos não identificados em um banco de dados mantido pelo Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos, o maior sistema integrado de saúde do país. Eles criaram um conjunto de dados controlados de 154.068 pessoas que testaram positivo para a Covid-19 em algum momento, de 1º de março de 2020 a 15 de janeiro de 2021, e que sobreviveram aos primeiros 30 dias após a infecção.
A modelagem estatística foi usada para comparar os resultados gastrointestinais no conjunto de dados de pacientes com a doença com dois outros grupos de pessoas não infectadas com o vírus: um grupo de controle de mais de 5,6 milhões de pessoas que não tiveram Covid-19 durante o mesmo período; e um grupo de controle de mais de 5,8 milhões de pessoas de 1º de março de 2018 a 31 de dezembro de 2019, antes de o vírus infectar e matar milhões de pessoas em todo o mundo.
Em comparação com os pacientes dos grupos de controle, as pessoas que tiveram Covid-19 tiveram um risco 62% maior de desenvolver úlceras no revestimento do estômago ou intestino delgado; 35% maior de sofrer de refluxo ácido; e 46% maior de sofrer de pancreatite aguda. Além disso, a doença aumentou em 54% as chances de síndrome do intestino irritável, 47% de inflamação do revestimento do estômago, 36% de dor de estômago sem uma causa óbvia e 54% de sintomas digestivos como constipação, diarreia, inchaço, vômito e dor abdominal.
No geral, os distúrbios gastrointestinais foram 36% mais prováveis em pessoas com Covid-19 em comparação com aqueles que não foram infectados pelo vírus. Isso inclui pessoas que foram e não foram hospitalizadas por causa do vírus. “Muita gente compara a Covid-19 e a gripe”, diz Al-Aly. “Comparamos os resultados de saúde daqueles hospitalizados com gripe versus aqueles hospitalizados com Covid, e ainda assim vimos um risco aumentado de distúrbios gastrointestinais entre pessoas hospitalizadas com a infecção pelo SARS-CoV-2. Ou seja, a Covid continua sendo mais séria do que a gripe”.
Vale ressaltar que durante este estudo, poucas pessoas tinham sido vacinadas já que os imunizantes ainda não estavam amplamente disponíveis. Os dados também são anteriores ao surgimento das variantes delta e ômicron. “Embora as vacinas possam ajudar a reduzir os riscos de Covid longa, elas não oferecem proteção completa contra sintomas de longo prazo que podem afetar o coração, os pulmões, o cérebro e agora, sabemos, o trato gastrointestinal”, finaliza Aly.
NATURE COMUNICATIONS