Sem citar nome da vítima, a revista detalha o assédio do ator contra a colega de elenco do Tá no Ar: A TV na TV (2014-2019). O fato teria acontecido em 27 de novembro de 2014, em meio às gravações da nova temporada do humorístico. Melhem teria pedido à atriz para tomar banho no quarto dela, em um flat na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, antes de uma confraternização do elenco.
“Ela achou o pedido um pouco esquisito, mas entendeu que não tinha como negar o favor. Afinal, Melhem era seu chefe. Para desestimular qualquer investida inadequada, ela fez questão de informar que uma colega do Tá no Ar também estava chegando ao flat”, diz trecho da reportagem da revista.
No relato, ela conta que o ator não se importou e que ao chegar ao quarto foi direto para o banheiro. Minutos depois, Melhem surgiu com uma toalha enrolada na cintura e o pênis ereto e partiu para cima da atriz. Ele a imprensou contra a parece e tentou beijá-la à força, enquanto ela desviava o rosto e mantinha os lábios cerrados.
“Diante da resistência da atriz, Melhem soltou-a, vestiu-se e encaminhou-se para a suíte onde se encontrava o elenco do Tá no Ar. Sozinha em seu flat, a atriz teve uma crise de choro, mas se recompôs e manteve o compromisso: foi à festa dos colegas de equipe”, diz outro trecho do texto.
A atriz é uma das oito mulheres que acusaram publicamente o humorista de assediá-las sexualmente e até moralmente. Das oito, seis depuseram por videochamada e duas por escrito. Todas são ex-subordinadas de Melhem, que durante anos ocupou o cargo de diretor do Humor da Globo. O ator sempre se declarou inocente das acusações.
A revista Piauí obteve acesso a trocas de mensagens via WhatsApp do ator com atriz dias após o episódio no hotel. Nelas, o ator pergunta se ela quer receber uma visita, se havia passado o constrangimento e que daria três tapas nela na próxima gravação para ela poder relaxar.
Ela respondeu que não havia passado o constrangimento, tentou mudar de assunto e parou de responder quando ele disse que estava passando em frente ao flat, indicando uma sugestão de que queria que a atriz o convidasse a entrar. A conversa consta nos autos do inquérito.
O caso do flat se junta a outros que aconteceram entre 2010 e 2019 em diferentes locais: Estúdios Globo, Hahahouse (onde os redatores dos programas de humor se reuniam) e o bar Vizinha 123, local em que Dani Calabresa teria sido assediada por Melhem.
Na época, Calabresa procurou o compliance da emissora para fazer a denúncia. A atitude dela foi seguida por outras mulheres que descreveram ao departamento da Globo as tentativas do diretor de agarrá-las à força, além de receberem mensagens inconvenientes e reclamar que o ambiente de trabalho era muito tóxico.
Em janeiro deste ano, a Globo decidiu arquivar a denúncia de assédio sexual e moral de Dani Calabresa contra o ator. De acordo com o colunista do UOL Ricardo Feltrin, eles entenderam não ter conseguido confirmar a autenticidade das denúncias.
A reportagem da Piauí cita ainda que Melhem recebia atrizes de “cueca, com as calças abaixadas ou sem calças”. Também chamava algumas de “piranha” e dizia que elas deveriam lhe agradecer com um boquete por tê-las contratado para a Globo, além de pegar as mãos das mulheres e colocar em sua genitália.
Em seu depoimento à Delegacia de Atendimento à Mulher, segundo a publicação, o ex-diretor da Globo negou e relativizou as acusações. Disse não ter compulsão sexual, se declarou católico e devoto de Nossa Senhora de Fátima, afirmou que sempre respeitou as mulheres com as quais trabalhou e nunca usou seu poder e influência em troca de sexo ou boicotou a carreira artística de quem quer que seja. Também esclareceu que não tinha poder absoluto para contratar e definir salários ou escala de trabalho.
O ator disse ainda que, entre as oito vítimas que o denunciaram, ele teve “relacionamento durante mais de um ano” com uma delas, e “relacionamento por uma noite” com outras três, sempre em termos consensuais.
CRÉDITOS: REVISTA PIAUÍ/TBN