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Um dos maiores estudos sobre Covid longa teve os primeiros resultados publicados nesta quarta-feira na revista científica Nature Communications e mostrou que 42% dos infectados com o novo coronavírus se sentem apenas parcialmente recuperados num período de até 18 meses após a contaminação. Além disso, 6% relataram não ter melhorado nada dos sintomas da doença.
O trabalho, chamado de Long-CISS (sigla para “Covid in Scotland Study”, Estudo da Covid na Escócia, em português), foi conduzido pela Universidade de Glasgow em colaboração com o órgão de saúde pública escocês e as universidades de Edimburgo e Aberdeen, também no país.
O projeto foi criado em maio de 2021 para compreender o impacto a longo prazo da infecção pelo Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19, em comparação com indivíduos que não foram contaminados.
O estudo CISS analisou informações de 33.281 escoceses que tiveram a doença e compararam com 62.957 indivíduos que não registraram uma infecção pela Covid-19 – um público de quase 100 mil participantes. Ambos os grupos foram monitorados por questionários no período de 6, 12 e 18 meses após o início.
Para conseguir o grande número de pessoas, os pesquisadores utilizaram dados do sistema de saúde público da Escócia. Com isso, foi enviado a todos os moradores do país que recebiam um resultado positivo para a doença uma mensagem de texto convidando a participar do estudo e a responder os questionários.
Além da constatação de que quase metade dos infectados não relataram uma melhora completa no período de mais de um ano após a contaminação, ou seja, ainda apresentavam algum sintoma associado ao vírus, os responsáveis pelo estudo também observaram quais eram os grupos com maior persistência das queixas.
Pessoas idosas, mulheres, moradores de comunidades carentes e indivíduos com problemas de saúde física e mental pré-existentes – como doenças respiratórias e depressão – foram mais propensos a experimentar os sintomas duradouros. Além disso, a incidência foi maior entre os que precisaram de hospitalização durante a fase aguda da doença.
As reclamações a longo prazo mais relatadas foram falta de ar, dor no peito, palpitações e confusão mental, ou ‘névoa cerebral’, como é conhecida. Durante o período, o status de recuperação permaneceu indiferente para a maioria das pessoas, com apenas 13% dizendo ter melhorado ao longo do tempo e 11% sentindo alguma deterioração.
Por outro lado, o estudo mostrou que aqueles que tiveram infecções assintomáticas da Covid-19, ou seja, não apresentaram sintomas durante a doença, no geral não tiveram os impactos a longo prazo. Além disso, entre os vacinados antes da contaminação, a prevalência da Covid longa foi de 24% a 42% menor para 7 sintomas: mudanças no olfato, no paladar, problemas de audição, perda de apetite, problemas de equilíbrio, confusão / dificuldade em se concentrar e ansiedade / depressão.
A professora de saúde pública da Universidade de Glasgow, que lidera o estudo, ressalta que os dados mostram que a maioria dos infectados de fato se recupera de forma rápida e completa após a infecção, porém uma parte considerável desenvolve uma variedade de problemas de longo prazo. Para ela, isso demonstra que compreender a Covid longa é essencial.
“Nosso estudo é importante porque aumenta nossa compreensão da Covid longa na população em geral, não apenas nas pessoas que precisam ser internadas no hospital com Covid-19. Ao comparar os sintomas com os não infectados, conseguimos distinguir problemas de saúde devido à Covid-19 e problemas de saúde que teriam acontecido de qualquer maneira”, diz em comunicado.
O cientista consultor de saúde da Public Health Scotland, Andrew McAuley, destacou ainda que o estudo fornece evidências “novas e importantes sobre a Covid longa”. Uma das certezas, para o especialista, é o benefício de se estar vacinado para evitar o quadro.
“Sabemos que estar totalmente vacinado contra o COVID-19 pode reduzir a probabilidade de desenvolver Covid longa. Portanto, incentive aqueles que são elegíveis para a vacina a aproveitar a oportunidade para aumentar sua proteção vacinando-se”, orienta McAuley.
COM: NATURE COMMUNICATIONS/TBN