quarta-feira, 17 de março de 2021

POR QUE O PREÇO DA CARNE SUBIU TANTO?


Carne está cara? Entenda o motivo

Depois de subir 18% em 2020 e ficar escassa na mesa dos brasileiros, a carne continua registrando alta nos supermercados, devido a problemas climáticos e custos.
Em fevereiro, o alimento subiu 1,72% na comparação com janeiro e, nos últimos 12 meses, registra alta de 29,5%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), publicado na quinta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IPCA é o índice que mede a inflação oficial no país.

Em fevereiro, o corte com maior variação foi o lagarto comum, com avanço de 3,60%. Já o contra filé aumentou 2,06% e a alcatra subiu 3,05%. Diferentemente destas carnes, a de porco, por exemplo, caiu 2,05%.

Com os preços mais salgados, a população tem escolhido ovo e frango como mistura.

Por que está caro?

Uma das explicações para a alta de preço é a menor disponibilidade de gado para o abate, que vem acontecendo desde 2020, segundo o assessor técnico da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Nissen. 

Ele explica que tudo começou ainda nos anos anteriores a 2019, quando havia uma presença maior do abate de fêmeas. Isso levou a uma menor quantidade de bezerros atualmente o que, por sua vez, diminuiu a oferta do animal para o abate. 

“Quando a gente observa as escalas de abates dos frigoríficos, eles estão com dificuldade de comprar boi para levar para o frigorífico efetivamente, porque o mercado está muito vazio”, comenta.

Mas este não é o único motivo para o crescimento dos preços. De acordo com Nissen, no final do ano aconteceu uma seca mais longa do que o normal, o que levou a um atraso na produção do boi de pasto.

Sem o pasto, o boi não obtém todos os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento e o produtor precisa investir em suplementos para resolver este problema, conta o assessor.

Vai faltar carne?

Apesar da menor oferta, o Brasil ainda é um grande produtor – e, deste modo, consegue suprir a demanda interna, segundo o assessor técnico da CNA, Ricardo Nissen. 

“A gente é o segundo maior mercado produtor de carne bovina do mundo. A questão é: a gente tá colocando menos carne no mercado. Mas não vai faltar carne, só tem uma pressão maior”, afirma Nissen. 

O que esperar para o futuro?

Com menos animais para o abate, os frigoríficos têm dispensado funcionários para aliviar os custos. Para o assessor técnico da CNA, isso acaba freando o preço para o consumidor. 

“Quando você reduz a sua capacidade de abate, você reduz a sua ociosidade, seus custos, você consegue manter uma planta frigorífica com menos abate e isso acaba reduzindo a pressão por compra de boi gordo no mercado”, explica.

Nissan exemplifica que, com menos abate, “aumenta a disponibilidade do boi gordo e você vai acabar conseguindo comprar esses animais de forma mais barata”. 

Mas esse reflexo não acontece de forma rápida no mercado: “A gente vem percebendo que, mesmo com menos abate nos frigoríficos, a aquisição dos animais continua sendo dificultosa, continua precisando de um pagamento alto”, conta o técnico. 

Para Nissen, o prazo para aumentar a oferta do animal para a compra dos produtores e para que essa maior oferta leve a um menor preço para o consumidor final, deve ser de cerca de um mês.