Contudo, nos sentimos estimulados a divulgar o texto, embora apócrifo, em razão das reflexões e verdades por ele trazidas.
O texto abaixo é um exemplo dessas raridades. Ele mostra a força do
tempo, que tudo transforma e a nada se verga. Isso também se dá na
relação dos filhos com os pais. Esperamos que gostem do texto.
O tempo há de me devolver o ócio dos domingos e das chamadas
repetidas de ‘mãe, mãe, mãe…’, que deram-me o privilégio e afastavam o
medo da solidão. O tempo talvez alivie o peso da responsabilidade que me
oprime o peito. O tempo, sem embargo, inexoravelmente esfriará outra
vez minha cama que já esteve quente de corpos pequenos e respiros
apressados. Esvaziará os olhos dos meus filhos que transbordaram um amor
poderoso e incontrolável.
Mas o tempo tirará de seus lábios meu nome que fora gritado e
cantado, chorado e pronunciado cem, mil vezes. Cancelará, pouco a pouco,
a intimidade da sua pele com a minha e a confiança absoluta que nos fez
um único corpo, com o mesmo cheiro, o mesmo espírito e coragem.
O Tempo separou, para sempre, o pudor e a vergonha com o
prejulgamento da consciência adulta de nossas diferenças. Como se fosse
um rio que escava o seu leito, o tempo colocará em risco a confiança de
seus olhos em mim, como se eu já não fosse uma pessoa onipotente, capaz
de parar o vento e acalmar o oceano, regular o não regulável e curar o
incurável.
Deixarão de me pedir ajuda, porque não acreditarão mais que eu possa
salvá-los. Pararão de me imitar porque não desejarão mais se parecer
comigo. Deixarão de preferir a minha companhia pelas dos outros (e,
olhe, tenho que buscar preferir outras companhias também).
Foram-se as paixões, as raivas passageiras e o zelo, o amor e o medo.
Apagaram-se os ecos dos risos e das canções. O acalanto e os ‘Era uma
vez…’ hoje ecoam na eternidade. Porque, com o passar do tempo, meus
filhos descobriram que tenho muitos defeitos e, se eu tiver sorte, algum
deles me perdoará.
Sábio e cínico, o tempo fará com me esqueçam. Esquecerão ainda que
não queiram. Esquecerão as cócegas e o ‘corre-corre’, os beijos nas
pálpebras e os choros que, de repente, cessavam com um abraço. As
viagens e os jogos, as caminhadas e a febre alta. As danças, as tortas,
as carícias enquanto dormiam.
Meus filhos se esquecerão que os amamentei e os protegi durante um
tempo até que o sono chegasse; que lhes dei de comer, que os consolei e
os levantei quando caíram. Esquecerão que dormiram sobre meu peito; que
houve um tempo em que necessitaram tanto de mim como o ar que respiram.
Esquecerão, porque isto é o que fazem os filhos, porque é isso que o
tempo faz. E eu, eu tenho que aprender a recordar esse tempo também por
eles, com ternura e sem arrependimentos, sem cobranças e com imensa
gratidão! E que o tempo, astuto e indiferente, seja amável com esta mãe
que não quer esquecer seus filhos”.
Texto de autoria desconhecida.