Conheça um pouco mais sobre a história do Carnaval e entenda quais são as origens da festa mais popular do Brasil
Quem vê o Carnaval
nos dias de hoje tão enraizado em nossa cultura pode ter dificuldades de
imaginar que estamos diante de uma invenção que não é brasileira. Na verdade, a
tradição remonta ao século XI, quando a Igreja Católica implantou as
comemorações da Semana Santa. Segundo a tradição, os fiéis deveriam fazer 40
dias de jejum antes do início da celebração – período conhecido como Quaresma.
A Quarta-Feira de Cinzas, portanto, seria o primeiro dia do início dessa
penitência. Dessa forma, os dias que antecedem a data eram considerados os
últimos em que se podia comer carne, daí a origem do nome do Carnaval. A origem
da palavra remete à expressão carne levale, que em
tradução simples pode ser entendido como “festa do adeus à carne”. Assim,
convencionou-se que os três dias que antecedem a Quarta-Feira de Cinzas seriam
dias festivos.
Das celebrações gastronômicas às
fantasias
Na Antiguidade, o
período de Carnaval era sinônimo de uma época de fartura e celebração. Em meio
a grandes festas, as pessoas comiam e bebiam bastante e buscavam extravasar com
todo tipo de prazeres. Durante esses três dias, todas as atividades eram
suspensas e mesmo os escravos ganhavam uma “liberdade” temporária para
aproveitar um pouco mais a vida. Além disso, havia o hábito de troca de
presentes, nos moldes do que acontece no Natal.
Foi no período do
Renascimento, na Itália, que foram introduzidos outros elementos como as
máscaras, os adereços, as fantasias e os carros alegóricos. Nessa época, a
festa começou a ganhar contornos que se assemelham mais ao formato atual.
Porém, como você já pôde perceber, tudo isso que aconteceu ainda estava muito
longe da realidade do Brasil. Por aqui, as festas foram introduzidas de outra
forma.
O entrudo: o início do Carnaval no
Brasil
Fonte: Acervo – Folha de São Paulo |
As primeiras
manifestações carnavalescas de que se têm notícia em território brasileiro
acontecerem no período colonial, por influência dos colonizadores portugueses.
De lá, herdamos uma tradição chamada entrudo, uma festa que era celebrada
basicamente pelos escravos. Na ocasião, eles saiam às ruas com as caras
pintadas jogando farinha e bolinhas de água de cheiro nas pessoas.
Inclusive, em
meados do século XIX, a prática do entrudo no Rio de Janeiro foi considerada
crime, após uma manifestação popular que pedia o fim das brincadeiras, que eram
tidas como de mau gosto. Com o entrudo proibido nas ruas, a elite do Império
brasileiro decidiu criar a sua própria celebração e assim nasceram os bailes de
Carnaval em clubes e teatros. O estilo musical que reinava no Carnaval da elite
era a polca.
Fonte: Acervo – Folha de São Paulo |
As classes mais
populares não gostaram nada da ideia de não poderem mais fazer as suas
celebrações. Assim, no final de século XIX, com o controle da polícia, foram
criados os chamados cordões e os ranchos. A primeira celebração era similar a
uma procissão, mas nela desfilavam pessoas jogando capoeira e tocando bumbo. Já
nos ranchos, participavam as pessoas de origem rural.
Durante o entrudo
não havia nenhum tipo de música nas celebrações, mas isso mudou com a chegada
dos cordões. Para guiar as procissões, surgiram as famosas marchinhas de
Carnaval. Os sambas “Ô Abre Alas”, de Chiquinha Gonzaga, e “Pelo Telefone”, de
Donga e Mauro de Almeida, foram símbolos do início da época de festas
populares.
Embora na época as
atenções sempre estivessem voltadas para a capital do Império, no Rio de
Janeiro, esse não era o único lugar em que havia manifestações desse tipo. Na
Bahia surgiram os afroxés, festas que visavam exaltar as tradições culturais
africanas. No Recife, nascia o movimento do frevo e, na cidade de Olinda, o
maracatu.
As escolas de samba e os trios
elétricos
Já deu para
perceber que a mistura cultural entre as tradições africanas e europeias deu a
tônica do início do Carnaval em solo brasileiro, não é mesmo? Os movimentos
populares do início do século XIX foram evoluindo e, na década de 20, no Rio de
Janeiro, nasceram as primeiras escolas de samba. “Deixa Falar”, que daria
origem à Estácio de Sá, e “Vai Como Pode”, que mais tarde viraria a Portela,
foram as pioneiras.
Com o número de
escolas de samba aumentando, em 1929 foi criada a primeira competição entre
elas para que o público e os jurados pudessem escolher qual era a melhor. A
festa era para ser mais livre e solta, mas devido ao autoritarismo do governo
de Getúlio Vargas, elas precisaram se enquadrar nas diretrizes propostas, sendo
obrigadas, por exemplo, a terem alvará de funcionamento.
Já os trios
elétricos foram surgir somente na década de 50, em Salvador, quando Dodô e
Osmar pegaram um caminhão antigo e subiram na caçamba dele com seus
instrumentos musicais para desfilar pelas ruas da cidade. O termo “trio
elétrico”, por exemplo, foi utilizado somente no ano seguinte, quando
Temistócles Aragão se juntou à dupla e para formar o chamado trio elétrico.
Sucesso e tradição cultural
Por volta da década
de 60, o Carnaval já estava consagrado como a festa popular brasileira que mais
atraía multidões. No Rio de Janeiro, empresários do jogo do bicho, em conjunto
com a prefeitura, decidiram transformar os desfiles em uma atividade comercial.
Os bicheiros investiram em uma festa mais rica em fantasias e adereços, e a
prefeitura colocou arquibancadas nas ruas e passou a cobrar ingresso.
O Sambódromo do Rio
de Janeiro foi criado somente na década de 80 e logo se tornou um símbolo do
Carnaval brasileiro. Aliás, o desfile das escolas de samba é hoje uma atração
turística internacional que traz milhares de pessoas à capital carioca todos os
anos. Quem diria que a história do Carnaval ia chegar tão longe assim?