segunda-feira, 4 de novembro de 2024

MAGNATAS DA IA, COMO MUSK E ALTMAN, APOIAM A RENDA MÍNIMA UNIVERSAL PARA REDUZIR OS IMPACTOS DA TECNOLOGIA: ENTENDA

 


Foto: Bloomberg
Foto: Bloomberg
 
04/11/2024 | 9 min de leitura
 
A renda básica universal (RBU), política que prevê a distribuição de uma quantia mínima de recursos para toda a população como forma de garantir a subsistência de todos, têm ganhado adeptos entre os magnatas da tecnologia.

Nomes como Elon Musk — o homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 240 bilhões — e Sam Altman, um dos fundadores e presidente da OpenAI, a empresa por trás da iniciativa de inteligência artificial mais conhecida do mundo, o ChatGPT, são entusiastas da ideia.

Há pelo menos oito anos, Musk defende a renda básica universal publicamente como solução para os impactos da automação do trabalho com o avanço da tecnologia, que, para ele, vai atingir todo tipo de função.

É essa a resposta costumeira do empresário quando questionado sobre os danos que a inteligência artificial (IA) provocará à sociedade ao substituir profissionais. Para ele, o trabalho deverá ser opcional no futuro e todos precisarão ter sua subsistência garantida.

Outro entusiasta da RBU é Sam Altman. Diferentemente de Musk, Altman não só respalda a renda básica como levantou R$ 60 milhões para testá-la na prática. Os recursos foram para a OpenResearch, projeto criado por ele para realizar e documentar os projetos pilotos.

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Durante três anos, a OpenResearch distribuiu US$ 1 mil mensais para um grupo de mil pessoas nos estados de Illinois e Texas. Outros dois mil participantes fizeram parte de um grupo de controle, com um cheque mensal de US$ 50. No período, os participantes responderam pesquisas, compartilharam relatos qualitativos e fizeram exames médicos. Os primeiros resultados foram publicados neste ano.

Em geral, os participantes relataram mais cuidados com a saúde, aumento na capacidade de poupança e redução de horas trabalhadas.

Assim como não é nova a discussão sobre a RBU, testes da proposta são feitos desde antes de os bilionários da IA se interessarem pela ideia. Um dos principais pesquisadores do mundo sobre o tema, o belga Jurgen De Wispelaere, coordenador da Basic Income Earth Network (Bien), ressalta que os pilotos têm limitações por serem temporários (o que muda a perspectiva dos participantes sobre como usar o recurso) e focalizados (não testam em populações mais amplas).

Apesar disso, ele diz que são uma “espécie de laboratório”, onde se pode observar como a RBU interage com diferentes contextos locais.

— Por ser temporário, claro que as pessoas vão pensar duas vezes antes de fazer uma mudança de carreira, por exemplo. Mesmo assim, conseguimos identificar efeitos importantes, em relação a estresse, saúde, bem-estar e confiança na sociedade. Outra razão desses testes é entender como encaixar essa renda extra na sociedade, a partir de quais mecanismos de governo — diz o pesquisador.

Para a especialista em inovação, no entanto, nenhum deles parece realmente engajado em gerar dignidade mínima a todos, como os fiadores “tradicionais” da ideia:

— Parecem muito menos preocupados com o futuro da Humanidade e mais com o poder e reações em cadeia.

A ideia coloca em lados opostos dois laureados com o Nobel neste ano. O cientista da computação e um dos pais da IA, Geoffrey Hinton, vencedor do prêmio de Física, chegou a aconselhar o governo britânico sobre a criação de uma renda básica universal para mitigar os impactos da IA na desigualdade.

 Tributação progressiva

Já o Nobel de Economia e pesquisador do MIT Daron Acemoglu argumenta que a RBU é não só economicamente insustentável como pode ser pouco eficaz na redução da pobreza. Ele sugere, em vez disso, o fortalecimento de políticas sociais direcionadas, como o imposto de renda negativo e programas de capacitação.

Para os defensores, a RBU é um mecanismo de geração de autonomia, especialmente para os mais vulneráveis, ao criar uma base de segurança econômica de forma indistinta. Fábio Waltenberg, pesquisador da UFF, reconhece que um programa em larga escala ainda está distante, mas destaca que iniciativas práticas podem pavimentar esse caminho. 

Ele cita, por exemplo, programas de renda mínima para famílias com crianças, independentemente da classe social, em países europeus.

Responsável por testes da RBU em vários países, o pesquisador britânico Neil Howard, da Universidade de Bath, defende que a ideia de garantir dignidade mínima de forma indistinta deveria ser aplicada com políticas de tributação progressiva de renda. Com isso, ele argumenta, a renda básica seria custeada proporcionalmente pelos mais ricos, tornando-a mais sustentável:

— Se assumirmos que uma política como essa é financiada por uma tributação progressiva, ela se torna neutra em custo para os mais ricos. Mesmo que todos recebam, a renda básica será sustentada pelos impostos maiores daqueles com mais recursos.

Fonte: O Globo