Presidente do clube
revela que o motivo foi a manifestação popular contrária e cita comentário de
jornalista
O Fluminense de
Feira não vai mais contratar o goleiro Bruno, que cumpre pena em regime
semiaberto por causa do assassinato e ocultação de cadáver da modelo Eliza
Samúdio, em 2010.
A desistência foi
revelada pelo presidente Ewerton Carneiro, o Pastor Tom, em entrevista coletiva
concedida nesta terça-feira (7), na sede do clube, em Feira de Santana.
De acordo com o
dirigente, o motivo foi a forte manifestação popular contrária à contratação.
"Esses dias foram de muita confusão para mim, para a diretoria, para o
Fluminense de Feira, pro povo de Feira, para a minha família. A gente viu
pessoas entrando na rede social, uns favoráveis, outros contra, inclusive falei
ontem com Bruno, conversei com ele. E eu ouvi ontem também a imprensa de Feira,
as pessoas nas ruas, procurei me basear também juridicamente do que poderia
trazer negativamente ou positivamente para o Fluminense. No dia de hoje, depois
da matéria que foi rodada ontem, repercutiu muito, muito, muito, muito, muito
na Bahia, qual é a nossa conclusão quanto a Bruno? Nossa conclusão é que eu
entendo que estamos em uma administração nova e não queremos polemizar. Muito
pelo contrário. Nós queremos resgatar aquelas pessoas que iam para o estádio
para que voltem ao estádio. Essa é a nossa preocupação, de trazer os
torcedores de volta para o clube", justificou.
"Então nesse momento eu entrei em contato com o empresário de Bruno
e disse: 'Ainda que o jurídico me deu um parecer que ele vai chegar com oito a
dez dias, eu quero dizer que o Fluminense está desistindo da contratação do
mesmo devido à manifestação popular. Foi um apelo da torcida, foi um apelo do
povo, então só quem não ouve o povo é porque é maluco”, contou o Pastor Tom.
A matéria a qual o
dirigente se refere pela grande repercussão foi na verdade um comentário feito
na segunda-feira (6) pela jornalista Jéssica Senra, apresentadora do
telejornal Bahia Meio Dia, da TV Bahia, na qual ela condena que Bruno volte a jogar futebol profissionalmente.
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Pastor Tom, presidente do Flu
de Feira, em entrevista coletiva (Foto: Reprodução/Instagram)
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O presidente do
Touro do Sertão revelou também um conflito existente entre seu
posicionamento como dirigente e como pastor. Por este último, ele seria
favorável a dar uma chance ao goleiro de 35 anos. “Eu ouvi a maioria,
então nesse exato momento nós estamos desistindo de trazer Bruno para o
município de Feira de Santana, respeitando a torcida, respeitando todas aquelas
pessoas que falaram do crime hediondo que o mesmo fez. Olha que eu não estou
aqui para julgar. A Bíblia é muito clara. Deus, numa parábola, ele fala: quem
não tenha pecado que lance a primeira pedra. E todos que estavam ali saíram e
se mandaram. Eu, como um pastor evangélico, tenho que lutar para ressocializar
as pessoas, para que aquela pessoa venha a ser transformada. Como homem de Deus
eu vou continuar fazendo isso, mas o apelo da torcida e da sociedade foi mais
importante”, disse.
O Fluminense está
em fase final de preparação para o Campeonato Baiano, no qual estreia dia 22,
contra o Atlético de Alagoinhas, fora de casa.
Confira a íntegra da nota de repúdio publicada por grupo de mulheres:
NOTA DE REPÙDIO CONTRA A CONTRATAÇÃO DO GOLEIRO BRUNO PELO FLUMINENSE DE FEIRA
06 de janeiro de 2020
Por meio deste documento registramos nosso repúdio a contratação do goleiro Bruno Fernandes, de 35 anos, que foi condenado pelo assassinato da modelo Elizia Samúdio em 2010. Vale lembrar que ele só não foi julgado também por ocultação de cadáver porque este crime expirou antes de ir a juízo. Ou seja, embora a morte tenha sido provada e ele condenado, até agora, os familiares da Elizia ainda não tiveram o direito de saber o que foi feito seu corpo.
Em regime semiaberto o mencionado goleiro negocia sua contratação com o Fluminense de Feira. Ao ser indagado sobre a repercussão negativa da contratação o presidente do Clube o Deputado Estadual Pastor Tom teve a pachorra de dizer que: se dentro de campo ele atender, se vestir a camisa do Fluminense com respeito e dedicação não via nenhum problema em tê-lo entre os contratados da agremiação. Tal declaração do atual dirigente é, no mínimo, uma falta de respeito não somente às mulheres de Feira de Santana, mas também aos homens que se respeitam e se juntam a nós contra o feminícidio.
Presidente Tom, nos respeite o senhor!!!!!!! Em tempos em que o aumento do crime de feminícidio em todo o Brasil aumenta escandalosamente como demonstra o primeiro relatório da Rede de Observatório com dados levantados entre junho e outubro de 2019, considerando cinco estados do nordeste dentre eles a Bahia. Apenas nesses meses, 518 crimes contra a mulher foram registrados nos estados pesquisados. Destes 39% se enquadram na categoria de feminicídio, 42% correspondem à tentativa de feminicídio ou agressões físicas e 15% agressões sexuais. Ainda está viva em nossa memória o assassinato da jovem Elitânia de Souza da Hora pelo ex-namorado quando saia da faculdade, na cidade de Cachoeira em 22 de novembro de 2019. Da mesma forma, ainda estamos de luto pelo assassinato de Rebeca Almeida que aos 19 anos, também foi assassinada pelo ex-namorado, diante de sua própria mãe na Rua Marechal Deodoro, aqui, em Feira de Santana enquanto as duas faziam compras às vésperas do natal. Só para citar alguns casos dentre tantos outros.
Fundado, em 1 de janeiro de 1941, não é preciso ser torcedor do Fluminense de Feira para reconhecer a importância desta agremiação esportiva para Feira de Santana. No entanto, o simples fato de cogitar a contratação deste assassino já se constitui uma mancha na longa história do Clube. E mais do que isso, representa um posicionando no sentido contrário ao crescente sentimento de repulsa ao feminícidio que tem interrompido a vida de tantas mulheres não só no município, mas em todo o Brasil.
Esperamos que o Touro do Sertão não manche sua bonita história em defesa do esporte afrontando as mulheres de Feira de Santana ao nos impor tão ofensiva contratação.
Mulheres do MNU-BA/Seção de Feira de Santana
MOMDEC – Movimento de Mulheres em Defesa da Cidadania
Rede de Mulheres Negras da Bahia
MOMDEC – Movimento de Mulheres em Defesa da Cidadania
Rede de Mulheres Negras da Bahia