segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Interesse pelo bitcoin cresce e faz de gado a 'Harley' serem comercializados com a moeda virtual em MS

Além da valorização, investidores citam uma série de vantagens para o incremento nas operações com a moeda virtual.



Com uma valorização de 818,96% no acumulado entre janeiro e meados de novembro deste ano, com cada unidade passando de R$ 2.900 para R$ 26.350, segundo dados do portal “bitValor”, cresce cada vez mais o interesse pela moeda virtual bitcoin no Brasil. Em Mato Grosso do Sul a diversificação e a multiplicação das operações comerciais que o aceitam como forma de pagamento reforça esse quadro.
No estado, entusiastas da criptomoeda ou moeda digital, como também é chamado o bitcoin, enumeram, além da valorização, uma série de outras vantagens para o seu uso em relação as formas tradicionais de transações comerciais e já estão o aceitando em operações que envolvem bens e até animais de grande valor. Os anúncios geralmente são direcionados, feitos em grupos de redes sociais de pessoas que investem na moeda.
Um exemplo é o do advogado Diego Fernandes Carvalho, de Campo Grande. Ele conta que conhece a moeda virtual desde a sua criação em 2008, mas que somente nos últimos sete meses começou a investir nela. O resultado foi tão animador que decidiu anunciar nos grupos de investidores uma casa que está vendendo.
Carvalho comenta que o imóvel avaliado em R$ 1,200 milhão está sendo anunciado nos grupos por 49 bitcoins, o que na cotação de sábado passado (18) representaria R$ 1,291 milhão. “O mercado está crescendo. Muitas pessoas em vez de utilizarem o real já estão usando o bitcoin”, analisa, completando que já recebeu duas propostas na moeda virtual e está as analisando.
Entre as vantagens para o uso da criptomoeda o advogado cita a inexistência de taxas bancárias que seriam cobradas em comparação com uma transação feita em reais, por exemplo, e a possibilidade de acessar de forma mais rápida os recursos.
“Com uma venda feita em bitcoins, por exemplo, posso deixar a moeda em uma carteira digital e quando precisar posso mandar para a minha conta corrente imediatamente. Posso ainda, colocar esse valor em um cartão de crédito internacional e usar para fazer aquisições em qualquer lugar do mundo. É claro que se tem de monitorar sempre o mercado, é uma forma mais arriscada de investimento, assim como quem investe em outras moedas, como o dólar, por exemplo. Tem que estar atento a cotação. Mas é um mercado muito seguro, tanto que as pessoas estão negociando tudo com ele, celular, carro e até moto”.
O empresário campo-grandense Vandercley Quirino, corrobora com a avaliação de Carvalho. Ele anunciou a venda de uma motocicleta Harley Davidson em moeda virtual. Em um site de comercialização de veículos na internet, a moto, uma Sportster XL 1200 Forty-Eight, está cotada a R$ 42,9 mil e nos grupos a quase dois bitcoins.
“Essa é a primeira vez que estou vendendo alguma coisa com bitcoins. Faço investimento na moeda e como estava com a moto parada lá em casa, resolvi vender para investir ainda mais, até aproveitando esse bom momento, de valorização”, explica, completando que o anuncio é recente e ainda não recebeu nenhuma oferta.
Enquanto Carvalho e Quirino estão na expectativa de venderem seus bens com a moeda virtual, o empresário sul-mato-grossense Cicero Saad Cruz já fechou uma transação expressiva com o bitcoin. Ele adquiriu durante a Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários (Expointer), realizada em Esteio, no Rio Grande do Sul, em agosto deste ano, uma bezerra de 18 meses da raça simental.
“Encontrei um amigo [o criador gaúcho Eduardo Borges de Assis, da Fazenda Santa Terezinha, de Jaquirana] que também é entusiasta do bitcon e conversando com ele, resolvi comprar uma novilha simental para colocar na propriedade da família, para fazer melhoramento genético. Alinhamos o negócio apertando as mãos e estabelecemos que ele seria fechado por um bitcoin, o que na época representava R$ 8 mil. Entretanto, deixamos para sacramentá-lo durante a Expointer, até para estabelecer uma marco de uso da moeda virtual. Na exposição, o bitcoin já tinha acumulado uma grande valorização e estava cotado a R$ 16 mil. Meu amigo não continha a felicidade e sorria de orelha a orelha”, recorda o empresário.





















Empresário Cícero Saad (terno) com a novilha da raça simental adquirida do pecuárista Eduardo Borges de Assis (de chapéu) com o bitcoin, durante a Expointer, em Esteio (RS), em agosto deste ano (Foto: Elton Lima/Arquivo Pessoal)

O empresário sul-mato-grossense diz que a repercussão do negócio foi tão grande que planeja fazer uma nova compra de gado com a moeda virtual, desta vez durante a Exposição Agropecuária de Campo Grande, a Expogrande, no próximo ano.
“Usar a palavra comércio, para o uso do bitcoin eu acho que não seja a mais adequada. A expressão que se enquadra melhor é escambo eletrônico, porque o bitcoin é uma commoditie, um ativo. Entre um dos seus grandes atrativos está o fato de que não existe territorialidade. Posso comprar com bitcoin na Rússia, no Japão, na China. Sem burocracia. As taxas são menores do que em uma transação em reais por exemplo. Por isso, o futuro é o dinheiro digital, que vai ter uma utilização cada vez maior”, ressalta.
O empresário refuta ainda que o bitcoin, que pela grande valorização que acumula, principalmente neste ano, possa ser uma bolha econômica. “Se fosse, já teria estourado. Comprar bitcoin é investimento tão interessante que já está chegando até na bolsa de valores de Chicago (EUA). Para quem quem investir a dica é procurar se informar o máximo possível sobre esse mercado e quando for fazer a aquisição, comprar de uma exchance [corretoras de bitcoins] séria. Isso você consegue verificar na própria internet”, concluiu.
Apesar de todos esses atrativos, o Banco Central do Brasil não reconhece as moedas virtuais, com o bitcoin e chegou a divulgar um comunicado alertando sobre os riscos das operações de guarda e negociação envolvendo as moedas virtuais.

O que é bitcoin

O bitcoin foi criado em 2008. É a primeira moeda com sucesso a usar criptografia. Essa tecnologia de segurança embaralha os dados para protegê-los e, no caso do bitcoin, é usada para manter as transações seguras e ocultas, dificultando ou inviabilizando a regulação financeira.

Ao contrário das moedas tradicionais que são controladas por um banco central, os bitcoins são produzidos por milhares de computadores conectados a internet, que checam as transações do sistema. Os donos das máquinas mais eficientes ganham bitcoins como prêmio e a produção é limitada



Por Anderson Viegas, G1 MS