quarta-feira, 7 de março de 2018

Coca-Cola vai lançar primeira bebida alcoólica em 125 anos


Produto à base do destilado shochu combinado a água gasosa e flavorizantes vai ao mercado japonês      
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Funcionário em linha de produção da Coca-Cola em Ebina, no Japão

TÓQUIO
Depois de 125 anos como abstêmia, a Coca-Cola decidiu enfim começar a trabalhar com álcool.
A maior fabricante mundial de refrigerantes escolheu o Japão para testar sua tolerância às bebidas pesadas e vai participar do crescente mercado japonês de "Chu-Hi", uma bebida da categoria dos alcopops ou coolers.

A aposta, que um importante executivo da Coca-Cola definiu como "única em nossa história", a posicionará em um segmento muito competitivo de mercado, ocupado por marcas japonesas como Strong Zero, Highball Lemon e Slat.
O Chu-Hi é uma bebida alcoólica em lata produzida com base em um destilado chamado shochu, combinado a água gasosa e flavorizantes. O mercado oferece centenas de sabores e, de acordo com números fornecidos pela fabricante japonesa de bebidas Suntory, viu crescimento de entre 5% e 25% ao ano de 2013 para cá.
Jorge Garduno, presidente da divisão japonesa da Coca-Cola, disse que o plano de entrar nesse mercado faz sentido e que era um exemplo de como a empresa vem explorando oportunidades fora de suas áreas usuais de operação.
"A Coca-Cola sempre teve foco exclusivo em bebidas não alcoólicas, e essa é uma experiência modesta para uma fatia específica de nosso mercado", disse, acrescentando que não acreditava que pessoas de outros lugares do mundo esperariam ver ofertas semelhantes por parte da empresa.
As bebidas enlatadas Chu-Hi têm teor alcoólico de entre 3% e 8% —um perfil que as coloca em concorrência direta com a cerveja e se prova especialmente atraente para as mulheres.
Os atrativos do Chu-Hi foram maximizados pela abordagem de tentativa e erro adotada por grandes produtores japoneses como a Kirin, Asahi, Takara e Suntory, que lançaram sabores como iogurte, acerola e manjericão.
O mercado total do sochu —uma bebida destilada de batatas, arroz, cevada ou açúcar, parecida com a vodca, que responde pela pegada alcoólica do Chu Hi— cresceu em quase 40% de 2011 para cá.
AVERSÃO AO AÇÚCAR
A decisão de vender uma bebida alcoólica surge em um momento no qual a Coca-Cola e outros grandes fabricantes de bebidas enfrentam queda de vendas em sua atividade principal: as bebidas carbonatadas.
Como a geração mais jovem de consumidores rejeita o açúcar, a Coca-Cola vem investindo em produtos de segmentos que apresentam crescimento mais rápido, como o chá e a água.
Os planos foram revelados quase quatro meses atrás, quando um analista norte-americano do banco Wells Fargo especulou em um relatório que a Coca-Cola poderia em breve anunciar seu ingresso no ramo de bebidas alcoólicas.
James Quincy, presidente-executivo da Coca-Cola, não descartou a possibilidade em um evento para investidores realizado em novembro, mas não ofereceu um cronograma ou detalhes adicionais sobre as ambições da companhia na área de bebidas alcoólicas, de acordo com reportagens publicadas na época.
VINHO
No final dos anos 1970, a Coca-Cola realizou uma curta experiência no mercado de vinho, adquirindo algumas vinícolas na Califórnia e uma companhia de vinho em Nova York. Isso culminou em, entre outras coisas, venda da bebida em lata em voos da United Airlines.
Quincy declarou no mês passado que sua empresa havia lançado mais de 500 produtos novos em 2017. "Temos foco forte em inovação", disse Quincy durante uma conferência setorial em fevereiro.
"Estamos realizando inovações, na Coca-Cola, inovações quanto a sabores e quanto a ingredientes, em todo o mundo..., conduzindo a empresa a categorias diferentes daquelas que ela ocupava no passado."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
FINANCIAL TIMES