A cobrança de tributo sobre dividendos e de IPVA sobre barcos e aeronaves está conquistando mais defensores e pode aparecer no relatório.
Em ano de pandemia e de eleições, a tramitação de alguns projetos se arrastou no Congresso. É o caso da reforma tributária, que tem uma comissão mista para avaliar tanta proposta diferente. Apesar da falta de consenso entre os parlamentares e de clareza das propostas do Executivo, duas propostas de tributação vêm angariando simpatia, principalmente entre a oposição. A cobrança de tributo sobre dividendos e de IPVA sobre barcos e aeronaves está conquistando mais defensores e pode aparecer no relatório do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
A Comissão Mista da Reforma Tributária, composta por 25 senadores e 25 deputados, prorrogou os trabalhos até dezembro. A expectativa é de que Ribeiro apresente seu relatório até dia 10. De acordo com a CNN, o deputado estaria disposto a fazer esse aceno à esquerda e incluir os dois temas em seu relatório.
Segundo o
"Valor", o relator também estaria propenso a propor a inclusão, na
Constituição, de determinação de que a tributação sobre o patrimônio e as
heranças seja progressiva, de forma que os mais ricos paguem mais. No caso
específico das heranças, há quem veja espaço para aumento no Imposto sobre Transmissão
Causa Mortis e Doação (ITCMD), tributo estadual que hoje tem alíquota máxima de
8%.
Vale destacar que o
recesso legislativo começa oficialmente em 23 de dezembro – isto é, daqui a
menos de um mês – e que as votações na Câmara têm sido obstruídas pelo Centrão
e pela oposição, cada um com seus motivos. Nem a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO), fundamental para que o governo possa manter a máquina
pública funcionando, foi apreciada até agora.
O impasse do IPVA para barcos e aeronaves na reforma tributária
A discussão sobre a
cobrança de algum tipo de imposto que incida sobre a propriedade de veículos
aquáticos e aeronaves não é nova. O Imposto sobre Propriedade de Veículos
Automotores (IPVA) sucedeu a Taxa Rodoviária Única (TRU), que historicamente
não incluía veículos que não sejam de transporte terrestre, já que parte dos
recursos arrecadados era destinada à manutenção de estradas. Em 2007, o Supremo
Tribunal Federal (STF) analisou um recurso extraordinário e entendeu que
embarcações e aeronaves não devem pagar o IPVA.
O IPVA para barcos e aviões foi alvo de inúmeras menções nas audiências públicas realizadas pela Comissão Mista. Em um desses encontros, no dia 5 de agosto, o deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE) comentou que “quando uma pessoa de classe média ou menos favorecida compra um carro, ela é obrigada a pagar IPVA, mas, quando um rico compra um barco ou um avião, ele paga zero de IPVA". "Nós temos que fazer essa correção urgentemente”, disse.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, que participou do encontro, concordou com a observação. “Esse imposto sobre propriedade, essa base sobre propriedade é um objeto legítimo também e é um capítulo do livro. Há que se falar sobre isso também”, disse.
Imposto sobre dividendos tem discussão mais calorosa
Atualmente, os
dividendos de ações, que são a distribuição de parte do lucro da empresa para
seus acionistas, não pagam Imposto de Renda, independentemente do valor. A
retomada dessa tributação, que foi suspensa em 1995, é cogitada há tempos pela
equipe econômica do governo Bolsonaro, e também vem sendo discutida no âmbito
da reforma tributária.
Esse foi um dos pontos destacados pelo deputado Mauro Nazif (PSB-RO) em sua proposta de emenda. O parlamentar cita que o Brasil tem quase 50% da arrecadação tributária proveniente do consumo, enquanto a média dos países da OCDE é de 32%. Para ele, ao acatar uma tributação de dividendos, “a classe política brasileira dará um sinal claro e firme na direção para que haja a redução das desigualdades sociais, fazendo que a reforma tributária a ser aprovada resgate os princípios basilares da justiça fiscal: equidade, capacidade contributiva e progressividade”.
O deputado Frederico (Patriota-MG), autor de outra emenda para a tributação dos dividendos, destaca a arrecadação. “Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que a tributação sobre lucros e dividendos no Brasil teria um potencial de arrecadação entre R$ 22 bilhões e R$ 39 bilhões. De acordo com o instituto, a criação do tributo ajudaria na redução da desigualdade social do Brasil, em especial caso a arrecadação fosse compensada por uma redução de outro tributo, no caso o PIS/Cofins”, escreve em sua justificativa.
A discussão da tributação dos dividendos, no entanto, ainda carece de aprofundamento para determinar como seria feita a cobrança. O economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, fez um alerta em audiência pública da Comissão Mista no dia 17 de setembro.
“O dividendo é o lucro do acionista que já pagou o imposto. Então, é preciso separar. Agora, no Brasil, a gente confunde o tamanho da empresa com o tamanho do acionista. Se a empresa é grande, assume-se que o acionista é grande. Isso vai ser verdade para alguns acionistas, e não para outros”, disse. Para ele, a solução ideal passaria por uma redução do imposto para pessoa jurídica associado à tributação de famílias na proporção de sua renda. Uma redução do IRPJ, simultânea à maior tributação da pessoa física, está no discurso da equipe econômica desde a época da eleição presidencial.
A senadora Zenaide Maia (PROS-RN) questionou, no encontro do dia 5 de outubro, a questão da regressividade dos tributos brasileiros. “O que é consenso aqui? Simplificar impostos, modernizar essa máquina de cobrança de impostos, taxar lucros e dividendos, e uma tabela progressiva, gente. Não é possível que alguém que ganhe R$ 5 mil pague 27,5% de Imposto de Renda e quem ganhe mais de R$ 100 mil pague os mesmos 27,5%”, ponderou.
Nessa mesma ocasião, o secretário da Receita Federal, José Tostes Neto, apenas respondeu que questões relacionadas ao Imposto de Renda da Pessoa Física, deduções, tributação de pessoas jurídicas e distribuição de lucros e dividendos seriam discutidas “quando do encaminhamento das propostas e após as decisões que vão ser tomadas em relação ao conjunto dessas outras propostas de reforma tributária”.
O ministro Paulo
Guedes, quando participou de um encontro da comissão ainda em agosto, ressaltou
que pretende implementar a tributação de lucros e dividendos, mas deu uma
alfinetada nos parlamentares. “Eu diria que vários Governos passaram por aí em
10, 15, 20, 30 anos e não tributaram lucros e dividendos. Não estavam
preocupados com essa progressividade do Imposto de Renda. Aparentemente,
fizeram algum pacto de coexistência e coabitação aqui em Brasília que impedia
tributar os lucros e dividendos. Nós vamos enfrentar isso”, afirmou.
FONTE: ASCOM/GOV.BR