FOTO: The Lancet/Reprodução
24/02/2025 06:22 | 5 min de leitura
Artigo publicado na revista científica na The Lancet, dá conta do caso que ganhou destaque nas redes sociais e ficou conhecido como "o curioso caso do homem francês de 44 anos que descobriu por acaso que tinha o cérebro oco": seu
sistema nervoso havia sido extremamente reduzido à uma fina camada mais perto
do crânio. A condição ficou desconhecida por décadas.
O homem foi vítima de uma hidrocefalia grave quando bebê,
mas foi tratado e vivia normalmente quando os médicos descobriram seu caso. Os
detalhes da história foram revelados em 2007 e o artigo relattando o caso raro, foi publicado na revista
científica na 'The Lancet'.
Para os pesquisadores, o caso do homem que permanece
anônimo, revela extraordinária adaptação do sistema nervoso frente a desafios.
Vida normal
O homem tinha uma vida normal: casado, pai de dois filhos
e funcionário público, só descobriu a condição ao tentar entender o
desenvolvimento de uma fraqueza súbita nas pernas, que os médicos suspeitaram
ser resultado de uma isquemia.
Exames revelaram uma condição rara: o cérebro estava
reduzido a uma fina camada nas bordas do crânio, com ventrículos extremamente
dilatados.
Tomografias e ressonâncias magnéticas revelaram dilatação
severa dos ventrículos laterais, terceiro e quarto. O diagnóstico foi
hidrocefalia não comunicante.
Os efeitos no cérebro
Aos seis meses de vida, o paciente recebeu um cateter
para drenar a hidrocefalia, o acúmulo de líquido no cérebro.
Aos 14 anos, ele apresentou instabilidade e fraqueza na
perna esquerda, que foi resolvida após uma nova drenagem. Desde então, porém,
ele teve desenvolvimento neurológico e histórico médico normais.
Testes neuropsicológicos mostraram QI de 75 (levemente
abaixo da média), com pontuação verbal de 84 e desempenho de 70.
Tratamento e melhora
A fraqueza nas pernas melhorou após um novo procedimento
que drena os ventrículos. No entanto, os sintomas retornaram, exigindo a
inserção de um novo shunt (espécie de catéter que leva o líquido da
hidrocefalia para o abdomen, para facilitar sua absorção).
Após a intervenção, o paciente recuperou a normalidade
neurológica, mas os efeitos na deformidade cerebral foram mantidos.
A hidrocefalia
A hidrocefalia é uma condição clínica caracterizada pelo
acúmulo de líquido cefalorraquidiano (LCR) no cérebro. Este líquido
naturalmente envolve o órgão, mas quando seu acúmulo é grande, pode pressionar
o órgão causando sintomas como perda da função cognitiva, dificuldade para
andar e desorientação.
Segundo a neurocirurgiã Vanessa Milanese, da Sociedade
Brasileira de Neurocirurgia (SBN), que não participou do estudo, este líquido,
que está em constante circulação nos ventrículos do cérebro, desempenha muitas
funções fundamentais: “Ele age como ‘amortecedor de choque’ para o cérebro e a
medula espinhal, atua como meio de levar nutrientes ao cérebro e remover
resíduos, e por fim, flui entre o crânio e a coluna para regular mudanças de
pressão”, comenta a especialista.
Fonte: Metrópoles