Mandado foi autorizado por Dias Toffoli;
investigação está em segredo de Justiça
Na mira. Newton Cardoso ocupa o cargo de presidente da empresa investigada pela Polícia Federal |
A Polícia
Federal (PF) cumpriu, na manhã desta terça-feira (10), mandados de busca e
apreensão em unidades de uma empresa do ex-governador de Minas Newton Cardoso e
de seu filho e deputado federal Newton Cardoso Jr., ambos do MDB. O alvo foi a
Rio Rancho Agropecuária S.A. Segundo registro na Receita Federal, os políticos
ocupam os cargos de presidente e diretor da instituição, respectivamente.
A ordem de busca e apreensão foi autorizada
pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli. A reportagem
pediu acesso aos documentos, mas a assessoria da Corte informou que não poderia
disponibilizar a ordem expedida pelo ministro porque os procedimentos correm em
segredo de Justiça.
Nos bastidores, porém, fontes da PF disseram
que foram alvos dos agentes uma filial da organização em Grão Mogol, na região
Norte de Minas, e a sede da empresa no bairro Buritis, na região Oeste de Belo
Horizonte. A instituição fica no mesmo edifício do Grupo Newton Cardoso. Lá, os
policiais também teriam feito buscas na empresa Florestal Vale Jequitinhonha.
Questionada sobre o motivo dos mandados, a
Polícia Federal de Minas Gerais informou que investigações que envolvem
autoridades com prerrogativa de foro privilegiado junto ao STF são de
competência da unidade central do órgão, em Brasília. No entanto, as ligações
feitas para a assessoria no DF não foram atendidas.
Interlocutores da alta cúpula da corporação em
Minas contaram que as buscas nas propriedades dos emedebistas integravam a
operação Capilé, deflagrada pela PF de Roraima. O órgão também não quis dar
detalhes sobre os procedimentos feitos em território mineiro. Essa investigação
apura a prática de crimes fiscais na região Norte do país, que teriam causado
um prejuízo de cerca de R$ 10 milhões, por mês, aos cofres públicos.
Capilé. As
irregularidades investigadas pela PF de Roraima teriam acontecido na Zona
Franca de Manaus e na Área de Livre Comércio em Boa Vista. Estão sendo apurados
crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa, corrupção ativa e
passiva, descaminho e câmbio ilegal. Além de Minas e Roraima, os agentes
realizaram ações no Amazonas, Goiás, São Paulo, Distrito Federal e Espírito
Santo. Foram cumpridos 29 mandados de busca e apreensão, oito de prisão
preventiva e três de afastamento de servidores públicos.
O delegado responsável pelo operação, Bernardo
Adame Abrahão, explicou que a investigação tem duas vertentes: câmbio ilegal e
crimes fiscais. A PF esclareceu que com benefícios fiscais concedidos a
empresas de fachada, com sede nas áreas de Manaus e Boa Vista, os suspeitos
adquiriam ilicitamente mercadorias com incentivo fiscal de empresa situada em
Goiânia
O abatimento, conforme Abrahão, variava entre
17% e 22%. Mesmo que as notas fosse emitidas pelas áreas com benefício fiscal,
as mercadorias eram remetidas a outros Estados: Minas, São Paulo e Espírito
Santo, envolvendo o pagamento de propina a servidores públicos. (Com Lucas Ragazzi)
Início
Capilé. As
investigações da operação foram iniciadas em 2016, mas as irregularidades,
segundo a PF, acontecem há, pelo menos, três anos. A apuração começou após o
recebimento de denúncia anônima.
Empresa
alvo nega as irregularidades
A reportagem procurou o ex-governador de Minas
Gerais Newton Cardoso (MDB) e o filho dele, o deputado federal Newton Cardoso
Jr. (MDB). Os dois enviaram uma nota oficial assinada pela empresa Rio Rancho
Agropecuária S.A.
O texto confirma que agentes da Polícia
Federal estiveram na terça-feira na empresa para cumprir a ordem expedida pelo
ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli. Na nota, a Rio Rancho afirma
que todas informações foram prestadas no âmbito do processo, mas não detalha
quais unidades da empresa foram alvos de busca.
“Atuando no mercado brasileiro por mais de 30
anos, a licitude e transparência nas atividades sempre foram os princípios que
nortearam e sempre nortearão nossos negócios. Respeitamos fielmente todas as
ordens e mandados judiciais e reiteramos nossa posição em auxiliar as
autoridades sempre que for necessário e solicitado”, diz o texto.
Dê: O Tempo