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Foto: Reprodução |
24 de março de 2025 - 3 minutos de leitura
Aqui, no país dos manés, onde a população sofre padecendo
grandes necessidades, emendas parlamentares bilionárias seguem rotineiramente
por caminhos desconhecidos indo, em muitos casos, para o bolso de corruptos.
Aqui, no país dos manés, os juízes, que, a começar pela
Suprema Corte, deveriam garantir a Constituição e distribuir justiça para
todos, tratam de distribuir para eles mesmos benesses e penduricalhos que
elevam seus ganhos para muito além do teto constitucional.
Aqui, no país dos manés, os partidos políticos, cuja missão
deveria ser mobilizar a sociedade para lutar contra tais abusos, mobilizam-se
apenas para garantir para si uma boa fatia dos bilionários fundos partidário e
eleitoral.
Aqui, no país dos manés, o crime organizado controla e
estabelece suas leis em cidades e regiões inteiras.
É diante desse quadro desolador que a esquerda grita a
expressão “Sem Anistia!” como principal bandeira de redenção nacional,
preferindo punir e vingar-se de supostos inimigos a ocupar-se das inúmeras
mazelas que oprimem o povo.
Instigado e validado pelo clamor dessa militância cega e
raivosa, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem exercido um rigor sem precedentes
contra a “arraia miúda” que invadiu as sedes dos Poderes em 8 de janeiro de
2023.
Muitos foram presos preventivamente e presos continuam; uns
tantos já foram condenados a cumprir penas de até 17 anos de prisão.
Corre agora no Supremo o julgamento da cabeleireira Débora
Rodrigues dos Santos, que usou batom para escrever a frase “perdeu mané” na
estátua A Justiça (que fica em frente ao STF). O relator do caso, ministro
Alexandre de Moraes, votou por uma condenação a 14 anos de prisão.
Muito se tem falado e escrito sobre isto; e é preciso que se
continue a falar e escrever para que tais abusos de julgamento não prevaleçam.
É preciso enfrentar o estardalhaço da campanha Sem Anistia e
perseverar na cobrança de que os possíveis delitos dos baderneiros do 8 de
janeiro sejam julgados de forma individualizada em vez de serem entendidos
todos como “tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.”
O delito efetivo de Débora foi riscar uma estátua. Sua única
“arma” era um batom. Por tal delito, uma daquelas penas alternativas de
prestação de serviço público seria suficiente: um ano ajudando em serviços de
limpeza estaria ótimo.
A pena de 14 anos para essa cabeleira e mãe de família, sem
precedentes criminais é um abuso, uma exorbitância, um descalabro jurídico, uma
vingança política.
Quem reagiu politicamente a essa pena perversamente
desproporcional foi o vigilante senador Alessandro Vieira, que apresentou um
Projeto de Lei no sentido de corrigir distorções, não permitindo penas
excessivas para quem cometeu atos “menos graves” durante as invasões do 8 de
janeiro.
Do lado bolsonarista, porém, o que temos é a
instrumentalização contínua do caso em favor do ex-presidente.
Misturam-se alhos com bugalhos como se Jair Bolsonaro e os
que tramaram “virar a mesa” com ele estivessem na mesma condição de
injustiçados quanto a cabeleira com batom e outros presos pelo 8 de janeiro.
É preciso diferenciar entre massa de manobra e artífices
reais da intentona bolsonarista. Punir devidamente os tubarões e soltar a
arraia miúda que foi arrastada pela irresponsabilidade de quem efetivamente
tramava um golpe.
Pena de 14 anos por pichar estátua é algo revoltante e
comprova que Alexandre de Moraes tem se comportado mais como algoz do que como
juiz.
Bolsonaro, porém, não é vítima. É preciso repudiar as penas
excessivas sobre cidadãos comuns sem fazer o jogo vitimista e hipócrita
daqueles que os colocaram nessa situação.
Fonte: O antagonista