sexta-feira, 18 de abril de 2025

DEPENDÊNCIA ETERNA: 7 MILHÕES RECEBEM BOLSA FAMÍLIA HÁ 10 ANOS OU MAIS

 


Das 20,6 milhões de famílias inscritas no Bolsa Família, 7 milhões recebem o benefício há pelo menos uma década. 

Os dados são de fevereiro de 2025 e representam 34,1% do total de beneficiários. As informações foram obtidas pelo Poder360 via Lei de Acesso à Informação, com base em dados do Ministério do Desenvolvimento Social.

O governo afirma que não há limite de permanência no programa. A principal aposta para reduzir a dependência é a chamada “Regra de Proteção”, que permite ao beneficiário continuar recebendo metade do valor por até dois anos após aumento da renda familiar. A iniciativa, no entanto, tem alcance limitado, e o problema da dependência estrutural permanece.

Segundo o ministério, a concessão de benefícios, realizada mensalmente, “inclui as famílias no programa e transfere renda a partir da definição dos benefícios da família […] Em outras palavras, o processo de concessão consiste no pagamento de benefícios do programa às famílias selecionadas, de acordo com o número de pessoas na família e a existência de gestantes, nutrizes ou pessoas com idade de até 18 anos incompletos em sua composição.”

O Nordeste lidera em dependência de longo prazo: 3,7 milhões de famílias recebem há mais de 10 anos — 38,8% dos inscritos da região. Em seguida aparecem Norte (33,7%), Sul (29,5%), Sudeste (29,1%) e Centro-Oeste (26,9%).

Em Alagoas, 42,7% das famílias estão há uma década ou mais no programa. Paraíba e Piauí registram 41,3%, Rio Grande do Norte 40,7% e Maranhão 40,1%. No total, 576 cidades brasileiras têm 50% ou mais dos beneficiários em “dependência longa”. Outras 2.687 têm pelo menos 40% nessa condição. O Distrito Federal, com apenas 3,1%, é a unidade com menor taxa.

pesquisador Pedro Ferreira de Souza, do Ipea, aponta que parte dos beneficiários realmente vive em condições extremas. Mas admite que fraudes podem estar incluídas nesse número: “Acho que a integração de base de dados é o caminho mais limpo [para aperfeiçoar a fiscalização do Bolsa Família]. Isso já está sendo feito para tentar aferir as condições de vida das pessoas. Não tem uma solução mágica.”

Já para a professora da FGV Carla Beni, o problema vai além da manutenção do benefício: “Medidas de saída são tão relevantes quanto as de controle e fiscalização. O problema da fraude é que você deixa de fornecer o benefício para quem realmente precisa. […] Toda política pública precisa de planejamento, recorte populacional e acompanhamento.”

Apesar da retórica oficial de que o objetivo é “emancipar” as famílias, a realidade é que o programa, em sua estrutura atual, mais acomoda do que liberta. A falta de critérios temporais, o uso político da pobreza e a ausência de um plano robusto de transição para o mercado de trabalho aprofundam a lógica assistencialista.

POR: CLÁUDIO DANTAS