Polícia Federal realizou mandado de busca e apreensão (Reprodução/Governo Federal)
A Polícia Federal deflagrou na quarta-feira (23) a operação Aposta Perdida, em Santa Catarina, para investigar um escândalo que envolve o desvio de cerca de R$ 2,3 milhões da Caixa Econômica Federal. O principal suspeito é um funcionário da agência localizada em São José do Cedro, no Oeste do estado, que teria utilizado os recursos públicos em apostas diversas — inclusive no popular e ilegal “jogo do Tigrinho”.
De acordo com as investigações, o empregado realizava saques indevidos e pagamentos de boletos diretamente do caixa da agência, sem qualquer registro ou compensação contábil. As movimentações foram consideradas incompatíveis com a função exercida e, segundo a PF, indicam um esquema recorrente de desvio de verba pública.
Operação Aposta Perdida
A operação contou com mandado de busca e apreensão na residência do investigado, com o objetivo de localizar bens adquiridos com o valor desviado, incluindo um veículo de alto valor, além de recolher elementos que comprovem os crimes.
O caso está sendo conduzido pela unidade da Polícia Federal de Dionísio Cerqueira (SC), que apura o crime de peculato — quando um servidor público se apropria ou desvia bens ou valores que tem sob sua responsabilidade em razão do cargo. A pena prevista pode chegar a 12 anos de reclusão.
A Caixa Econômica Federal ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso.
Vício em aposta
O caso traz à tona uma questão que vai muito além do âmbito criminal: os prejuízos causados pelos jogos de azar à economia e à saúde mental da população brasileira. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o varejo brasileiro deve perder cerca de R$ 109 bilhões somente em 2024 em função do dinheiro desviado para apostas. Em Minas Gerais, a CNC estima uma perda de R$ 30 bilhões, com uma retração de R$ 18 bilhões no PIB estadual.
Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, alerta que a prática também tem reflexos no ambiente de trabalho. “Há relatos cada vez mais frequentes de funcionários jogando durante o expediente, o que afeta diretamente a produtividade”, afirma.
O cenário é agravado pelos dados do Ministério da Previdência Social: 402 benefícios por incapacidade temporária foram concedidos este ano devido a transtornos psicológicos relacionados a jogos, sendo 61 apenas em Minas Gerais.
Pedro Silvini - DIÁRIO DO COMÉRCIO