18 de abril de 2025 - 3 minutos de leitura
Está em Lucas 23:34 uma das passagens mais
populares do evangelho cristão e que reproduz aquelas que teriam sido as
últimas palavras de Jesus ao ser crucificado: “Pai, perdoa-lhes, porque
não sabem o que fazem.” A interpretação também mais famosa dessa frase
é sobre o perdão aos que ignoram seus atos. Os soldados romanos apenas cumpriam
ordens.
Significa que devemos, nós, pobres mortais, perdoar aqueles
que mataram o filho de Deus? Ou aqueles que violam nossas filhas, matam nossos
irmãos, ceifam o futuro de gerações? Devemos perdoar os imorais e
corruptos Judas e Pôncio Pilatos? A Bíblia é
um incomparável compêndio de regras e lições, é o Livro da Justiça, a Constituição do Cristianismo. Ele
institui a moral que forja a civilização ocidental, a nossa civilização.
É tão poderosa que impérios ruíram e se elevaram em torno da
prerrogativa de interpretá-la e, claro, do poder de aplicar seus ensinamentos.
Nesta Sexta-Feira da Paixão, dia da crucificação e
morte de Cristo, a maioria de nós segue vivendo no erro
daqueles soldados romanos e do povo da Judeia, que condenou o
inocente e absolveu o ladrão.
Jesus se deixou crucificar, não para que
pudéssemos exercer o perdão, mas para que buscássemos o conhecimento e o
verdadeiro sentido da Justiça, para que fôssemos capazes de separar o joio do
trigo, impedir a corrupção moral da sociedade, a violação de nossas filhas, a
morte de nossos irmãos, a ceifa das futuras gerações. Para não repetirmos e nem
deixássemos repetir a traição e o arbítrio.
A mensagem que devemos levar adiante é a de repúdio à
imolação de inocentes no altar da arrogância e do poder sem limites. Fincada no
alto da montanha, a Cruz é como um farol a nos advertir de que
todos podem estar errados enquanto apenas um está certo.
Nesta Sexta-Feira Santa, nossa civilização é tão
ignorante quanto aquela de 2 mil anos atrás. Talvez mais, considerando que
somos herdeiros de toda a história civilizatória depois de Cristo e, claro, de
seus ensinamentos. Herdeiros da Idade Média, do Iluminismo e
das revoluções industrial, científica e tecnológica.
Nesse breve período, desde a passagem de Cristo, fomos
capazes de dominar os elementos fundamentais da vida, decodificamos o DNA, criamos
uma rede de comunicação global, fundimos os núcleos dos átomos, lançamos
uma sonda ao espaço infinito. Somos capazes
de dar ré em foguetes, de clonar a vida e até de ressuscitar espécies extintas.
Mas ainda assim não sabemos até hoje separar o joio do
trigo, somos incapazes de discernir entre o criminoso e o inocente, não
descobrimos ainda a essência da Justiça. Repetimos Judas, nos
vendendo por moedas; entregamos o manso a novos Pilatos, e nos
solidarizamos com os Barrabás modernos; dobramos nossos
joelhos a novos César.
Nossos ‘soldados’ seguem no erro, cumprindo silenciosamente
tantas ordens injustas de perseguição, prisão e açoite. Parecem calçar com
orgulho as botas das polícias políticas, portam com desvelo o chicote dos
capitães do mato. Lançam às feras num Coliseu midiático pipoqueiros,
cabeleireiras, vendedores de picolé.
Será que não enxergam as acusações forjadas, os crimes
inventados, as narrativas construídas apenas para blindar os poderosos de
plantão? Jesus, vejam bem, foi condenado por blasfêmia e sedição. Na época,
declarar-se Filho de Deus e rei dos judeus era uma ofensa aos costumes judaicos
e românicos. Incitar o povo a não pagar impostos a César era uma ameaça à
ordem!
Nada disso mudou. Só mudaram os nomes para discurso de ódio,
disseminação de fake news e tentativa de golpe. Perdoe-nos, meu Pai,
por sermos tão covardes e egoístas, por não merecermos até hoje o seu perdão.