16/04/2025 | 4 min de leitura
A 'deputada' federal Erika Hilton (PSOL-SP) recebeu um visto
dos Estados Unidos em que é identificada com o gênero masculino. A deputada
afirma que acionará o país na ONU (Organização das Nações Unidas) por
considerar o caso transfobia e um desrespeito a seus registros civis
brasileiros.
Um visto anterior expedido pelo mesmo país em 2023 informava
que ela era do gênero feminino, em acordo com a identidade da parlamentar
trans.
Ela afirma que apresentou a sua certidão de nascimento e o
passaporte diplomático, ambos em que está identificada como mulher, durante o
processo para obtenção do novo documento.
"Não se trata apenas de um caso de transfobia. Se trata
de um documento sendo rasgado sem o menor tipo de pudor e compromisso. Irei
acionar o presidente [dos EUA] Donald Trump judicialmente na ONU e na Comissão
Interamericana de Direitos Humanos. Queremos que o Itamaraty chame o embaixador
para dar explicações", diz.
"Me senti violada, desrespeitada e senti as
competências do meu país sendo invadidas por uma pessoa completamente
alucinada, um homem doente que ocupou a presidência da República dos EUA e se
sente dono da verdade. Meus documentos civis brasileiros foram
desrespeitados", prossegue.
A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil ainda não se
posicionou sobre o caso.
Erika iria aos Estados Unidos participar no sábado (12) de
um painel na Brazil Conference. O evento é organizado pela comunidade
brasileira de Harvard e do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
Ela desistiu de viajar por conta da situação.
"Fiquei preocupada com a tratamento que receberia no
aeroporto, das autoridades americanas, tendo em vista que o nome é feminino e o
gênero descrito era masculino. Senti medo, para ser sincera. E não aceitei me
submeter a esse tipo de coisa", conta.
"Achei que não merecia, mesmo perdendo uma atividade
importante a qual eu gostaria muito de participar, não deveria me submeter a
tamanha violência e desrespeito como esse", diz.
O presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva em seu
primeiro dia de governo, em janeiro, reconhecendo apenas os gêneros feminino e
masculino.
A ordem estabelece que formulários governamentais que
solicitam informações sobre sexo devem oferecer apenas as opções
"masculino" ou "feminino", e não devem pedir informações
sobre identidade de gênero.
A parlamentar conta que em nenhum momento preencheu qualquer
formulário dando margem para a mudança.
Os Estados Unidos também suspenderam a emissão de
passaportes com a marcação de gênero "X" para pessoas que se
identificam como não binárias, revertendo medida que havia sido aprovada pelo
governo Joe Biden em 2022.
Fonte: Folha de S. Paulo