Recentemente, o sistema de transplantes do estado do Rio de Janeiro enfrentou uma crise sem precedentes. O centro das investigações está o PCS Lab Saleme, laboratório privado localizado em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. O laboratório foi contratado pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) para conduzir exames de sorologia em órgãos doados. A contratação ocorreu em dezembro de 2022 por meio de uma licitação emergencial, totalizando R$ 11 milhões. Este artigo aprofunda o caso e suas implicações.
Transplante de Órgãos e a Descoberta do Problema
No mês de setembro de 2023, um incidente com um receptor de transplante de coração levou à descoberta de irregularidades nos exames realizados pelo PCS Lab Saleme. O paciente apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV, apesar de não possuir o vírus antes do transplante, realizado em janeiro deste ano.
Diante disso, as autoridades refizeram os exames relacionados ao transplante. A SES-RJ constatou que o laboratório havia informado erroneamente que todos os órgãos de um doador eram não reagentes para HIV.
A contraprova confirmou o contrário, e outros receptores dos rins também testaram positivo para o vírus. Esse fato colocou em questão a confiabilidade dos testes anteriormente realizados pelo laboratório.
Ações Imediatas e Medidas de Prevenção
Após a divulgação dos resultados, o Hemorio, unidade de saúde estadual, assumiu a responsabilidade pela realização de todos os exames de sorologia de doadores. Com início em 13 de setembro de 2023, todas as doações começaram a ser redirecionadas para a verificação pelo Hemorio.
Paralelamente, uma investigação da Delegacia do Consumidor da Polícia Civil e um inquérito do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) foram abertos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também identificou a ausência de kits adequados para a realização dos testes no PCS Lab Saleme, levantando suspeitas de que os resultados poderiam ter sido forjados.
A Resposta da Secretaria de Saúde
Cláudia Mello, secretária estadual de Saúde, declarou ser a situação inaceitável. Em resposta, uma comissão multidisciplinar foi criada para prestar apoio aos pacientes afetados. Além disso, procedimentos para garantir a segurança dos receptores de transplantes foram implementados. A SES-RJ está conduzindo uma reavaliação rigorosa de todas as amostras de sangue de doadores armazenadas desde a contratação do laboratório problemático.
Desdobramentos e Futuros Passos
Embora os detalhes da investigação sejam mantidos em sigilo por questões de privacidade e pela necessidade de avançar no inquérito, uma sindicância foi instaurada para identificar os responsáveis e aplicar as devidas sanções. As autoridades asseguraram que todos os passos necessários estão sendo seguidos para retificar as falhas no sistema de transplantes, um serviço que já salvou mais de 16 mil vidas desde 2006.
Embora chocante, o incidente serviu como um alerta para a necessidade de maior controle e verificação nos procedimentos de transplantes, especialmente em serviços terceirizados. O caso ainda está sob investigação, e os desdobramentos futuros determinarão as medidas adicionais a serem tomadas para evitar que erros similares voltem a ocorrer.
FONTE: TBN/UOL