segunda-feira, 14 de outubro de 2024

'COMPANHEIROS, REDUZI O PT E A ESQUERDA BRASILEIRA': O FIASCO RETUMBANTE DAS URNAS

 

Arte/Metrópoles
Arte/Metrópoles

14/10/2024 | 4 minutos lendo

Lula deixou entrever a preocupação com o fiasco do PT nas eleições municipais. O partido aumentou timidamente o número de cidades que governa, embora haja os otimistas que vejam aí um “recomeço”, e não conseguiu conquistar a prefeitura de nenhuma capital importante.

No cômputo geral, a esquerda encolheu pela metade desde 2012. No primeiro turno das eleições deste ano, todas as legendas do espectro ideológico fizeram juntas menos prefeitos do que o PSD de Gilberto Kassab.

O presidente da República disse, em entrevista, que é preciso “rediscutir o papel eleitoral” do PT. Entre as quatro paredes do partido, contudo, Lula apontou culpados e brandiu o açoite.

Em público, ele afirmou que “toda vez que termina eleições aparecem os vencedores e heróis que acham que o mundo, a partir dali, mudou. A eleição de prefeito não tem muita incidência na eleição presidencial, porque nem todo prefeito no segundo ano de mandato está bem”.

Na intimidade, Lula está preocupado com a crescente possibilidade de Tarcísio de Freitas ser o nome da oposição (e de alguns aliados atuais) na disputa pelo Palácio do Planalto, em 2026. O governador paulista saiu-se muito bem na eleição municipal, ao bancar Ricardo Nunes contra a vontade geral bolsonarista, e já é visto pelo próprio Jair Bolsonaro como a melhor alternativa para a próxima eleição presidencial.

Rediscutir o papel eleitoral do PT implicaria que o próprio Lula admitisse que sempre se comportou como árvore frondosa demais para que outras crescessem a seu lado, e que o partido não atraiu quadros jovens ao longo dos anos, não a ponto de fazer diferença, fato agravado pela perda da base sindical, antes fornecedora de companheiros. O definhamento de categorias profissionais como as dos metalúrgicos e bancários e as mudanças no mercado e nas relações de trabalho causaram a quase extinção de tal base.

Não houve renovação, e exemplo bastante evidente disto é que o PT recorreu à quase octogenária Marta Suplicy, que havia saído do partido, para ser vice na chapa de Guilherme Boulos — candidato do PSol. O PT é, hoje, uma agremiação de velhos tanto na idade quanto na ideologia, em contraste com os partidos de direita, polo de captação de uma juventude interessada em “desafiar o sistema” (não deixa de ser curioso, embora sintomático, como o desafio ao sistema, bandeira tradicionalmente da esquerda, passou a ser agitada pela direita, e não apenas no Brasil).

Para além do envelhecimento interno, ano após ano, eleição após eleição, Lula também salgou o terreno dos demais partidos da esquerda brasileira, ao tratá-los como meras linhas auxiliares — e eles aceitaram funcionar como tal, voluntariamente servis. Perderam, assim, a oportunidade de ganhar independência, luz própria, ao não se distanciarem de Lula e do PT quando o chefão e a organização foram torpedeados pela Lava Jato. O resultado é este aí.

Fonte: Metrópoles