Além da valorização, investidores citam uma série
de vantagens para o incremento nas operações com a moeda virtual.
Com uma
valorização de 818,96% no acumulado entre janeiro e meados de novembro deste
ano, com cada unidade passando de R$ 2.900 para R$ 26.350, segundo dados do
portal “bitValor”, cresce cada vez mais o interesse pela moeda virtual bitcoin
no Brasil. Em Mato Grosso do Sul a diversificação e a multiplicação das
operações comerciais que o aceitam como forma de pagamento reforça esse quadro.
No estado,
entusiastas da criptomoeda ou moeda digital, como também é chamado o bitcoin,
enumeram, além da valorização, uma série de outras vantagens para o seu uso em
relação as formas tradicionais de transações comerciais e já estão o aceitando
em operações que envolvem bens e até animais de grande valor. Os anúncios
geralmente são direcionados, feitos em grupos de redes sociais de pessoas que
investem na moeda.
Um exemplo é o
do advogado Diego Fernandes Carvalho, de Campo Grande. Ele conta que conhece a moeda
virtual desde a sua criação em 2008, mas que somente nos últimos sete meses
começou a investir nela. O resultado foi tão animador que decidiu anunciar nos
grupos de investidores uma casa que está vendendo.
Carvalho
comenta que o imóvel avaliado em R$ 1,200 milhão está sendo anunciado nos
grupos por 49 bitcoins, o que na cotação de sábado passado (18) representaria
R$ 1,291 milhão. “O mercado está crescendo. Muitas pessoas em vez de utilizarem
o real já estão usando o bitcoin”, analisa, completando que já recebeu duas
propostas na moeda virtual e está as analisando.
Entre as
vantagens para o uso da criptomoeda o advogado cita a inexistência de taxas
bancárias que seriam cobradas em comparação com uma transação feita em reais,
por exemplo, e a possibilidade de acessar de forma mais rápida os recursos.
“Com uma venda
feita em bitcoins, por exemplo, posso deixar a moeda em uma carteira digital e
quando precisar posso mandar para a minha conta corrente imediatamente. Posso
ainda, colocar esse valor em um cartão de crédito internacional e usar para
fazer aquisições em qualquer lugar do mundo. É claro que se tem de monitorar
sempre o mercado, é uma forma mais arriscada de investimento, assim como quem
investe em outras moedas, como o dólar, por exemplo. Tem que estar atento a
cotação. Mas é um mercado muito seguro, tanto que as pessoas estão negociando
tudo com ele, celular, carro e até moto”.
O empresário
campo-grandense Vandercley Quirino, corrobora com a avaliação de Carvalho. Ele
anunciou a venda de uma motocicleta Harley Davidson em moeda virtual. Em um
site de comercialização de veículos na internet, a moto, uma Sportster XL 1200
Forty-Eight, está cotada a R$ 42,9 mil e nos grupos a quase dois bitcoins.
“Essa é a
primeira vez que estou vendendo alguma coisa com bitcoins. Faço investimento na
moeda e como estava com a moto parada lá em casa, resolvi vender para investir
ainda mais, até aproveitando esse bom momento, de valorização”, explica,
completando que o anuncio é recente e ainda não recebeu nenhuma oferta.
Enquanto
Carvalho e Quirino estão na expectativa de venderem seus bens com a moeda
virtual, o empresário sul-mato-grossense Cicero Saad Cruz já fechou uma
transação expressiva com o bitcoin. Ele adquiriu durante a Exposição
Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários
(Expointer), realizada em Esteio, no Rio Grande do Sul, em agosto deste ano,
uma bezerra de 18 meses da raça simental.
“Encontrei um
amigo [o criador gaúcho Eduardo Borges de Assis, da Fazenda Santa Terezinha, de
Jaquirana] que também é entusiasta do bitcon e conversando com ele, resolvi
comprar uma novilha simental para colocar na propriedade da família, para fazer
melhoramento genético. Alinhamos o negócio apertando as mãos e estabelecemos
que ele seria fechado por um bitcoin, o que na época representava R$ 8 mil.
Entretanto, deixamos para sacramentá-lo durante a Expointer, até para
estabelecer uma marco de uso da moeda virtual. Na exposição, o bitcoin já tinha
acumulado uma grande valorização e estava cotado a R$ 16 mil. Meu amigo não
continha a felicidade e sorria de orelha a orelha”, recorda o empresário.
Empresário Cícero Saad (terno) com a
novilha da raça simental adquirida do pecuárista Eduardo Borges de Assis (de
chapéu) com o bitcoin, durante a Expointer, em Esteio (RS), em agosto deste ano
(Foto: Elton Lima/Arquivo Pessoal)
O empresário
sul-mato-grossense diz que a repercussão do negócio foi tão grande que planeja
fazer uma nova compra de gado com a moeda virtual, desta vez durante a
Exposição Agropecuária de Campo Grande, a Expogrande, no próximo ano.
“Usar a palavra
comércio, para o uso do bitcoin eu acho que não seja a mais adequada. A expressão
que se enquadra melhor é escambo eletrônico, porque o bitcoin é uma commoditie,
um ativo. Entre um dos seus grandes atrativos está o fato de que não existe
territorialidade. Posso comprar com bitcoin na Rússia, no Japão, na China. Sem
burocracia. As taxas são menores do que em uma transação em reais por exemplo.
Por isso, o futuro é o dinheiro digital, que vai ter uma utilização cada vez
maior”, ressalta.
O empresário
refuta ainda que o bitcoin, que pela grande valorização que acumula,
principalmente neste ano, possa ser uma bolha econômica. “Se fosse, já teria
estourado. Comprar bitcoin é investimento tão interessante que já está chegando
até na bolsa de valores de Chicago (EUA). Para quem quem investir a dica é
procurar se informar o máximo possível sobre esse mercado e quando for fazer a
aquisição, comprar de uma exchance [corretoras de bitcoins] séria. Isso você
consegue verificar na própria internet”, concluiu.
Apesar de todos
esses atrativos, o Banco Central do Brasil não reconhece as moedas virtuais,
com o bitcoin e chegou a divulgar um comunicado alertando sobre os riscos das
operações de guarda e negociação envolvendo as moedas virtuais.
O que é
bitcoin
O bitcoin foi
criado em 2008. É a primeira moeda com sucesso a usar criptografia. Essa
tecnologia de segurança embaralha os dados para protegê-los e, no caso do
bitcoin, é usada para manter as transações seguras e ocultas, dificultando ou
inviabilizando a regulação financeira.
Ao contrário
das moedas tradicionais que são controladas por um banco central, os bitcoins
são produzidos por milhares de computadores conectados a internet, que checam
as transações do sistema. Os donos das máquinas mais eficientes ganham bitcoins
como prêmio e a produção é limitada
Por Anderson Viegas, G1 MS