Para Fabio Fernandes e Marcello Serpa: nenhuma
marca deveria se associar a uma pessoa com esse histórico
O Goleiro foi contratado pelo Boa Esporte e causou polêmica no mundo do marketing |
A recente contratação do goleiro
Bruno pelo clube mineiro Boa Esporte é um desses temas que geram discussões
intermináveis nas redes sociais, onde opiniões radicais de “haters” se
intercalam com os sempre atuantes relativistas ou a turma do “deixa disso”.
Trata-se, sem dúvida, de um movimento polêmico no mundo do marketing esportivo,
e por isso PROPMARK decidiu ouvir alguns especialistas e publicitários,
propondo a seguinte reflexão: “todos merecem uma segunda chance?”
No mundo das marcas, por muito
menos, grandes atletas perderam o aval de marcas e se viram, de uma hora para
outra, sozinho. De uma maneira geral, concorda-se que qualquer pessoa
merece uma chance na vida, após cometer um erro e pagar por ele. No mundo das
marcas, no entanto, pode não haver perdão, pois há erros que jamais são
esquecidos – como costuma ser o caso em assassinatos e crimes que envolvem
violência. Bruno foi solto após cumprir seis anos da pena de 22 anos e três
meses estabelecida pela Justiça pelo sequestro do filho Bruno Samudio e morte e
ocultação de cadáver da ex-amante Eliza Samudio
“Mesmo com a narrativa da
superação, são problemas que nenhuma marca deveria comprar. Qualquer marca só
tem a perder se metendo nessa. A propaganda, e por consequência o patrocínio,
buscam o encontro: de necessidades, interesses e desejos. Nesse caso não há
encontro aí”, opina o corinthiano (nada fanático) Rodrigo Leão, sócio e
criativo da Casa Darwin.
O flamenguista e especialista em
marketing esportivo João Henrique Areias diz que o “episódio Bruno” mostra como
é preciso mudar o modelo de gestão das entidades esportivas brasileiras, e que
nesse caso o jurídico deveria ter sido ouvido para mostrar o risco de que o goleiro
pode, a qualquer momento, voltar para a prisão.
“O marketing e a comunicação
deveriam ser ouvidos, para antecipar reações dos patrocinadores e torcedores,
bem como da população da cidade que os abriga. Seria interessante também ouvir
uma entidade de reintegração de ex-detentos à sociedade, para saber a melhor
forma de levar o goleiro ao clube”, comenta.
Para o especialista, existem
“falhas perdoáveis” no marketing esportivo e um exemplo mais simples é o do
Ronaldo Fenômeno e seu envolvimento com os travestis, que veio a público –
diante do qual o jogador deu entrevista em rede nacional. No caso do nadador
americano Ryan Locht, que forjou uma situação de violência durante os Jogos
Olímpicos no Rio, no ano passado, a punição foi radical e seus contratos de
patrocínio foram encerrados. No caso do goleiro Bruno, é imprevisível tanto o que
pode ocorrer com ele no futuro, quanto as consequências para qualquer marca que
eventualmente decida se associar à sua imagem.
Marcello Serpa: tudo em nome do 'marketing' |
Marcello Serpa, ex-presidente da
AlmapBBDO, diz que o goleiro Bruno não deveria ter uma segunda chance no mundo
do esporte por não ter cumprido a pena completa por assassinato.
“Mas absurdos morais geram
notícias e essas bastam para alguém achar que vale a pena. Tudo em nome do
‘marketing’. Feio demais”, lamenta.
O publicitário Lula Vieira,
torcedor entusiasmado do Santos FC, concorda. “Todo mundo merece uma segunda
chance. Menos um cara que mata ou manda matar a mulher e tem o comportamento
que está tendo. Mau exemplo”, opina.
Divulgação
Fabio Fernandes, presidente da
F/Nazca S&S e torcedor do Vasco, diz que a discussão em torno de uma
segunda chance não se aplica ao caso do goleiro, que não pagou, ainda, pelo seu
erro.
“Do ponto de vista do marketing,
basta vermos a rejeição maciça das pessoas à figura - e à nossa Justiça
deformada. Os casos de um ou outro ‘fã’, que se aproxima dele como se fosse um
ídolo não muda esta percepção. Ao contrário, reafirma a convicção da maioria de
que o Brasil está seriamente doente. E nenhuma marca minimamente bem orientada
por profissionais sérios de marketing quer ou deve estar associada a uma pessoa
com esse histórico - interrompido”, afirma.