MILHARES DE MENSAGENS ELETRÔNICAS, TELEFONEMAS E VÍDEOS TÊM CHEGADO AOS
GABINETES DOS MINISTROS DA CORTE COM PRESSÃO CONTRA DECISÃO QUE PODE BENEFICIAR
EX-PRESIDENTE LULA
Caminhoneiros bolsonaristas ameaçam STF com nova greve se prisão em 2ª
instância foi derrubada; Corte aciona órgãos de
segurança para apurar ataques; julgamento reinicia amanhã
Última atualização:Outubro 22, 2019
O Supremo Tribunal Federal tem sofrido pressões para não derrubar a
possibilidade de prisão após condenação em segunda instância. A intimidação
mais agressiva vem de caminhoneiros bolsonaristas, que gravaram vídeos
ameaçando novas paralisações caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
saia da cadeia. A ofensiva também chegou aos gabinetes dos ministros, que não
param de receber mensagens e ligações para impedir a revisão da atual
jurisprudência. Só no gabinete do ministro Luís Roberto
Barroso, foram mais de 2 mil telefonemas e 4,5 mil e-mails na semana passada.
O Estadão apurou que os órgãos de segurança e setores de inteligência do
governo monitoram a questão, tanto nas redes quanto nas estradas, e produzem
relatórios para analisar o que é “bravata” e o que pode ganhar algum tipo de
força. De acordo com a assessoria do STF, as ameaças “que se mostrarem violentas
serão enviadas para o âmbito do inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de
Moraes”, que cuida de investigação sobre ofensas e fake news contra integrantes
da Corte.
“Qual ministro terá coragem de pedir vista e impedir o fim da prisão
após condenação em segunda instância?”, diz convocação do movimento, que
divulgou na internet relação dos telefones e e-mails de cada um dos gabinetes.
Cem mil usuários já acessaram a lista, segundo o grupo.
O plenário da Corte retoma amanhã o julgamento de três ações, com a
expectativa de rever o atual entendimento, favorável à prisão após condenação
em segunda instância. Na semana passada, o ex-comandante
do Exército general Eduardo Villas Bôas defendeu no Twitter o “grande esforço
para combater a corrupção” e alertou para os riscos de “convulsão social”. No
ano passado, um tuíte dele na véspera do julgamento de um habeas corpus de Lula
foi interpretado como intimidação. Agora, a nova postagem é vista na Corte como
um “gesto isolado”.
Ameaças
O recado mais estridente direcionado ao STF vem de grupos isolados de
caminhoneiros, que divulgaram em redes sociais vídeos com mensagens contra os
integrantes da Corte. “Se vocês soltarem tudo que é ladrão, principalmente o
maior de todos eles, que é o Lula, vocês vão ver a maior paralisação que este
País já teve. E quando os caminhoneiros param, o Brasil para. Fica esperto,
Toffoli”, diz um caminhoneiro identificado como “Marcão”.
“Já viram caminhão subindo rampa? Vocês querem
soltar bandido para benefício próprio de vocês. Chega! Ou vocês trabalham
direito ou vão ver o que vai acontecer. Isso não é um recado, não. É uma
promessa”, diz outro caminhoneiro.
Os vídeos circularam entre integrantes da Corte, que relativizam as
declarações. “Tem de minimizar, porque essa decisão atinge um número baixo de
pessoas”, disse o ministro Gilmar Mendes. Segundo o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), o julgamento pode beneficiar 4.895 presos.
Ativistas
A paralisação de caminhoneiros é encabeçada
por Ramiro Cruz Jr, representante da União Nacional dos Transportadores
Rodoviários e Autônomos de Cargas (Unatrans). Filiado ao PSL, ele foi candidato a deputado
federal, não se elegeu, mas mantém contato com assessores do presidente e com
Bolsonaro, com quem chegou a se reunir em abril.
“Quanto mais deixar o STF correr solto,
soltando bandido por atacado, promovendo o errado e condenando o certo, mais a
reação da economia tarda e mais difícil fica (o governo Bolsonaro) continuar de
pé. Estamos promovendo uma paralisação pela nossa sobrevivência como
sociedade”, disse Ramiro ao Estado.
DO: BR2.