segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

RESULTADOS DO ENEM EVIDENCIAM DIFERENÇAS ENTRE ESCOLAS PÚBLICAS E PRIVADAS

Paulo Pinto/Agência Brasil
Paulo Pinto/Agência Brasil
 
22/01/2024

A revelação dos resultados e indicadores do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) lança luz sobre as disparidades tanto no acesso quanto no desempenho entre estudantes de escolas públicas e privadas. Em relação à pontuação máxima na redação, apenas 4, o que representa um pouco mais de 6%, foram obtidas por alunos da rede pública. No que diz respeito à participação, quase metade dos alunos do 3º ano (49,2%) não realizou a prova, sendo que esse número é ainda maior no contexto das escolas públicas, onde 53,3% dos matriculados na rede optaram por não participar. Especialistas consultados pelo R7 ressaltam as discrepâncias e a urgência de priorizar políticas públicas que visem promover a equidade educacional.

Os dados evidenciam a necessidade de aprimorar a qualidade da educação oferecida aos estudantes da rede pública, segundo a professora Catarina de Almeida Santos, membro do Comitê pelo Direito à Educação. Ela destaca a importância de melhorar as condições de vida dos estudantes, permitindo que se dediquem aos estudos, além de aprimorar a infraestrutura escolar e reformular o Ensino Médio.

Conforme aponta a especialista, o modelo atual prejudica os alunos das escolas públicas, que necessitam de uma formação geral sólida antes de se aprofundarem em um itinerário focado no conhecimento científico. Santos enfatiza que, sem melhorias nesse processo, os resultados continuarão insatisfatórios.

O relatório de aprendizagem mais recente elaborado pelo Todos Pela Educação destaca as desigualdades entre estudantes do último ano do ensino básico de escolas públicas e privadas. Em Língua Portuguesa, 74,6% dos alunos da rede privada apresentaram níveis adequados de aprendizado, enquanto na rede pública esse índice cai para 31%. Em Matemática, a diferença é de 41,3% para 5,2%, respectivamente.

Ivan Gontijo, Coordenador de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, avalia que as discrepâncias nos resultados do Enem refletem problemas estruturais no sistema educacional, que começam com dificuldades de acesso à educação infantil e persistem ao longo do percurso educacional. Ele destaca a necessidade de combater ativamente essa desigualdade, priorizando uma agenda robusta de equidade educacional de forma sistêmica.

Quanto à participação no Enem, Gontijo destaca as variações entre estados e enfatiza a importância de políticas públicas eficazes para mobilizar os estudantes. Ele menciona o exemplo do Ceará, que obteve alto índice de participação devido a uma política pública sólida, incluindo mutirões, aulas específicas para a prova e garantias de apoio aos estudantes. Gontijo ressalta a necessidade de uma política pública federal para aumentar as taxas de participação.

Para superar as disparidades entre instituições públicas e privadas, o professor e pesquisador Francisco Thiago Silva destaca a importância de cumprir percentuais de investimento na educação pública, garantir o piso salarial do magistério em todos os estados e unir as redes federal, estadual e municipal em prol de condições dignas nas escolas públicas.

Diante dos resultados, o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou uma pesquisa para entender as razões das desistências no Enem, destacando a necessidade de diálogo com gestores locais. O presidente do Inep, Manuel Palacios, enfatizou a importância de convencer os jovens de que a educação superior está ao seu alcance. Além da pesquisa, o ministro anunciou um incentivo financeiro extra para os concluintes do ensino médio inscritos no Enem, a ser implementado em março.

FONTE: MEC/AG. BRASIL