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De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o mercado informal de trabalho no Brasil abrange cerca de 39 milhões de pessoas, responsáveis por movimentar mais de R$ 1,5 trilhão por ano. Essa chamada "economia subterrânea" desempenha um papel fundamental na sustentação da economia do país, mas permanece à margem da regulamentação estatal.
Nos últimos anos, um fator vem transformando as dinâmicas desse setor: o uso do PIX. Inicialmente, o pagamento em dinheiro vivo era predominante entre os trabalhadores informais, mas a praticidade e a rapidez do sistema de transferências eletrônicas o tornaram amplamente adotado. Apesar de suas vantagens, o PIX trouxe uma preocupação adicional: o monitoramento pela Receita Federal, especialmente para aqueles que movimentam mais de R$ 5 mil mensais.
Essa vigilância gera medo e desconfiança. Muitos trabalhadores informais, que já enfrentam desafios diários para garantir o básico — casa, comida, transporte e saúde —, temem ser taxados como sonegadores por simplesmente complementar a renda familiar. Afinal, o salário mínimo, como apontam especialistas, é insuficiente para garantir uma vida digna à maioria dos brasileiros.
A questão levanta um debate moral e fiscal. É justo tratar como sonegadores pessoas que recorrem à economia informal para sobreviver em uma sociedade que não oferece oportunidades iguais? Críticos argumentam que, se o objetivo fosse realmente combater grandes sonegadores, o limite para fiscalização deveria ser muito superior aos atuais R$ 5 mil.
Além disso, a "guerra do PIX" tem sido alvo de desinformação. Afirmações de que notícias falsas venceram esse debate não correspondem à realidade. O cerne da questão é a injustiça estrutural: um país marcado pelo patrimonialismo das elites e pela desigualdade extrema, onde a economia subterrânea evita que milhões caiam na miséria absoluta.
Nesse contexto, a fiscalização excessiva do PIX é vista por muitos como uma tentativa de arrecadar mais "bufunfa", enquanto problemas estruturais permanecem ignorados. Como aponta a voz popular, "Deixem o povo em paz, nós só queremos trabalhar!" Essa frase reflete a exaustão de uma população que luta diariamente para sobreviver em meio às adversidades.
Sem uma reforma fiscal que enfrente as desigualdades e promova justiça econômica, pressionar a base da pirâmide social parece apenas aprofundar as feridas de um sistema já injusto.