Compreender
os mecanismos fisiológicos que levam ao ganho de peso pode ser um
grande aliado na escolha de uma dieta que leve a resultados eficazes
A Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu 4 de Março como o Dia Mundial da Obesidade com o objetivo de disseminar conhecimentos sobre a doença. A afirmação de que o balanço calórico positivo é a única causa do excesso de peso é difundida largamente não apenas pelas pessoas comuns, mas também por profissionais de saúde.
Para o médico referência em low-carb no Brasil, autor do livro “Uma dieta além da moda – Uma abordagem científica para a perda de peso e a manutenção da saúde”, José Carlos Souto, esse raciocínio está longe de ser verdadeiro. Para Souto, o fato de o balanço calórico positivo ser condição necessária para o ganho de peso não significa necessariamente que ele seja a causa.
Conforme Souto, o que leva as pessoas a afirmarem que o balanço calórico é a causa do excesso de peso é a crença na passividade do tecido adiposo. Contudo, segundo o médico, o tecido adiposo está longe de ser um mero repositório de calorias e, assim como outros tecidos, é regulado por hormônios e fatores de crescimento, estes sim os grandes responsáveis por uma pessoa acumular ou perder gordura corporal.
“Entre os principais hormônios responsáveis pela regulação do tecido adiposo está a insulina que, em níveis elevados, favorece a entrada de gordura no tecido adiposo e em níveis baixos favorece a saída de gordura da célula”, explica Souto. De acordo com o médico, a secreção de insulina, por sua vez, é regulada pela quantidade de glicose no sangue, a chamada glicemia.
Sendo assim, grosso modo, quanto maiores forem as elevações da glicemia, maior será a quantidade de insulina e mais gordura o corpo acumulará.
Levando-se em conta que a glicemia é a principal responsável pela secreção de insulina, que favorece o acúmulo de gordura, e que apenas os carboidratos elevam a glicemia (carboidratos são açúcares e amido), não seria incorreto afirmar que o excesso de carboidratos é um dos vilões do excesso de peso. Tal constatação, relata Souto, contribui para o surgimento da hipótese carboidrato-insulina da obesidade, que passou a ser defendida pelos adeptos da dieta low-carb como o mecanismo que explicaria o ganho de peso.
Como consequência direta dessa hipótese, uma alimentação pobre em carboidratos - low-carb - favoreceria o emagrecimento, visto que induz à menor secreção de insulina. O médico referência em low-carb destaca que os efeitos positivos da dieta low-carb para a perda de peso já foram ostensivamente comprovados por diversos ensaios clínicos randomizados ao longo dos anos, mas a explicação para a eficácia da prática alimentar não se encontra apenas na teoria carboidrato-insulina, que se mostrou incompleta.
Souto explica que, se a hipótese carboidrato-insulina fosse totalmente verdadeira, seria impossível emagrecer com dietas ricas em carboidratos, o que, já foi demonstrado, é possível, desde que se faça restrição calórica. Além disso, destaca o médico referência em low-carb no Brasil, pela teoria, o consumo de proteína, que também resulta em maior produção de insulina, deveria produzir aumento de peso, o que sabidamente não acontece, acarretando, inclusive, emagrecimento.
Segundo o médico, no contexto da prática alimentar low-carb, para explicar a sua eficácia comprovada no emagrecimento, tão importante quanto a teoria carboidrato-insulina é a teoria do alavancamento proteico. “Por meio dela compreendemos que o aumento da proporção de proteína na dieta leva a uma redução espontânea de fome e do consumo calórico e que por isso uma dieta rica em proteína, muito embora eleve a insulina, favorece o emagrecimento”, explica.
Além disso, destaca Souto, o consumo de proteína é importante para uma dieta low-carb porque impede que o metabolismo sofra uma redução muito significativa, a chamada termogênese adaptativa, que é um dos motivos para a dificuldade em perder peso.
Alimentos ultraprocessados
Ao abordar a restrição de carboidratos e o consumo de proteína na dieta low-carb como fatores preponderantes para o emagrecimento e combate à obesidade, é natural, segundo o médico, que desponte a questão dos ultraprocessados. “É fato notório que boa parte dos alimentos ultraprocessados é pobre em proteínas e rica em carboidratos refinados, sendo basicamente combinações de amido, açúcar e óleos industriais e que, por isso, a dieta low-carb elimine muitos alimentos ultraprocessados, como salgadinhos, guloseimas açucaradas, biscoitos, cereais matinais, refrigerantes, sucos e achocolatados”, diz.
De acordo com Souto, há um estudo realizado pelo aclamado pesquisador estadunidense Kevin Hall que demonstrou que quando todos os demais parâmetros (carboidratos, proteínas, gorduras, fibras) são mantidos iguais, o simples fato de trocar os alimentos por suas versões ultraprocessadas já produziu o maior consumo de calorias, que, por sua vez, levou ao aumento de peso. Conforme o médico, embora ainda não se saiba exatamente o mecanismo pelo qual uma dieta ultraprocessada leva ao consumo calórico excessivo, o motivo mais provável é a hiperpalatabilidade desses alimentos. Combinação de carboidratos (em especial açúcares) e gorduras, esses alimentos são mais saborosos do que a comida normal, ativam de modo suprafisiológico o centro de prazer e recompensa cerebral, fazendo com que as pessoas comam mais e mais.
Não obstante a relação dos ultraprocessados com o aumento de peso e o desenvolvimento de problemas metabólicos, não se pode afirmar, segundo Souto, que todo alimento desse tipo seja prejudicial à saúde humana. De acordo com o médico referência em low-carb no Brasil, há situações em que o alimento in natura ou minimamente processado é uma opção muito pior do que um ultraprocessado. “Para um paciente diabético tipo 2, que esteja adotando o método low-carb a fim de conseguir colocar sua doença em remissão, um biscoito low-carb à base de proteína (ultraprocessado) é uma opção muito melhor do que um pão feito em casa com ingredientes integrais, por exemplo”, afirma.
Isto porque, explica Souto, o grau de processamento afeta os macronutrientes de forma distinta. “O processamento de gorduras e de proteínas parece não afetar seus efeitos metabólicos, bem como seus efeitos sobre o apetite. Já o grau de processamento dos carboidratos tem efeito gigantesco sobre a saúde, o metabolismo e o apetite”. O médico ainda complementa: “o processamento de um alimento proteico tende a concentrar algo bom, enquanto o processamento de um alimento rico em carboidratos tende a concentrar algo problemático.”
Assim, finaliza Souto, o ultraprocessamento em si não parece ser o problema, mas sim o ultraprocessamento de carboidratos, “que, ao concentrar açúcares e amidos, multiplica sua carga glicêmica e gera boa partes dos males atribuídos a essa categoria de produtos como um todo”.
COM: IG